Eu pecador me confesso: quando olho para o chamado cinema militante costumo pôr o espírito crítico um pouco de lado e, mesmo maniqueístas, tenho prazer em assistir a histórias em que os humilhados e ofendidos deste mundo reagem heroicamente contra quem os explora. Daí a simpatia com que encaro este filme de Diego Martinez Vignatti embora não me fosse difícil encontrar matéria para o minimizar se para tal estivesse virado. A verdade é faltarem-nos filmes, que nos mantenham acordados para as vilanias praticadas neste mundo e que fazem almejar por um outro tipo de sociedade definitivamente pós-capitalista.
Em La Tierra Roja temos um belga a comandar uma exploração de madeira na floresta argentina da região de Missiones, indiferente aos produtos agrotóxicos aplicados nos terrenos desmatados, onde crescerão espécies não autóctones destinadas à indústria da celulose. Bem tenta a amante, Ana, instiga-lo a ganhar consciência dos danos ali praticados contra a natureza, que ele mais atenção dedica à equipa de rugby, que treina nos tempos livres, e com a qual ambiciona tornar-se campeão regional.
Não é por acaso que esse jogo de equipa é escolhido para prenunciar a transformação do protagonista: se ele começa por surgir-nos como um homem que apenas presta contas a si mesmo é essa integração no coletivo, que presume ser o seu destino.
A noção do que está em causa desperta-o quando começa a sentir os sintomas das doenças, de que outras pessoas da região também se queixam. O médico a que recorre é um dos líderes da contestação ambiental à atividade da multinacional para que trabalha e também a primeira vítima dos jagunços contratados para calar a crescente contestação popular.
Essa morte não refreia a contestação, antes a empola, com novos líderes a secundarem Ana, que passa a ser o rosto mais visível dessa luta e a que Pierre acaba por aderir. Os embates com a polícia tornam-se mais violentos e, num deles, ela acaba por ser assassinada.
Embora Vignatti deixe então de ser tão demonstrativo como até aí, presume-se que essa morte porá definitivamente em causa o negócio poluente, que a generalidade da população rejeita. Assim o pressupõe o isolamento a que é votado o governador, que servia de suporte político àquela atividade. E ganhando o jogo decisivo na final regional, Pierre confirma que as vitórias decorrem da capacidade de levar um grupo a organizar-se e a bater-se por um objetivo concreto.
Para além da história há característica que melhor definirá a persistência do filme na memória de quem o vê: o engenhoso trabalho de sonoplastia, que nos leva a dar singular importância aos sons do crepitar do fogo, das máquinas a trabalharem, dos troncos das árvores a estalarem antes de se abaterem no solo, dos gritos dos homens e dos animais.
É sem remorso que esqueci o que poderia não ser tão encomiástico no filme, porque no fundo fica a sensação de ninguém poder calar a voz à classe operária!
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