quarta-feira, fevereiro 24, 2021

(DIM) Arrangiatevi, Mauro Bolognini, 1959

 
No cinema italiano da segunda metade do século XX houve uma fase de transição entre o neorrealismo puro e duro dos filmes, que se seguiram à Guerra e eram explícitos na forma como denunciavam as condições precárias de vida dos mais desfavorecidos, e essa década de sessenta caracterizada por comédias divertidas com o sexo a ser abordado de uma forma mais ou menos explicita.

Mauro Bolognini nunca foi um realizador de primeira linha mas, numa atividade que se prolongou por mais de quatro décadas, ganhou nome como artesão competente capaz de criar obras irrepreensíveis nos objetivos pretendidos, mas sem rasgos de genialidade. Arrangiatevi é um bom exemplo desse tipo de cinema, que se distanciava das preocupações sociais e procurava boas receitas de bilheteira graças a um tipo de comédia, que tinha em Peppino De Felippo e Tótó dois dos seus principais protagonistas.

A herança neorrealista ainda está evidenciada no problema dos alojamentos em Roma, com as famílias a partilharem os mesmos apartamentos muito embora nada tenham a ver umas com as outras. No caso dos Armentanos esse convívio é feito, há mais de dez anos, com uma outra família vinda da Ístria que, no rescaldo da Guerra, ficara integrada na Jugoslávia. E têm uma característica, que exaspera o chefe de família, Peppino: multiplicam-se sem contenção. Assim, quando os incómodos colocatários anunciam a iminente chegada de um novo rebento à exígua habitação, ele considera inevitável a mudança para local mais aprazível.

O namorado de uma das filhas até se mostra prestável oferecendo-se para lhe emprestar o dinheiro necessário para arranjar casa nova, mas ele resiste à tentação, porque não vai lá muito com a cara do rapaz. As circunstâncias obrigam-no, porém, a aceitar. Mas aí comete um tremendo erro: tentado pela hipótese de multiplicar essa verba aposta no nome daquele que está para ser o novo Papa. E perde...

Incapaz de confessar à família o seu erro opta por uma alternativa muito barata, mas que não tardará a revelar-se problemática: transferir-se com ela para um outro apartamento, que acabara de ficar vago perante a implementação da nova lei sobre a proibição da prostituição e dos bordéis.

O lado divertido do filme reside nessa tentativa dele ocultar à família o uso anterior daquelas paredes e não faltarem antigos frequentadores a baterem-lhes à porta para indagarem da possibilidade de ali se manter a antiga atividade, mesmo que de forma clandestina.

Há ainda outro aspeto crítico, que o filme explora com graça: a importância conferida à opinião dos vizinhos. Ora pode-se perspetivar a destes perante aqueles recém-chegados ao bairro e, aparentemente, desconhecedores das histórias pícaras ligadas aquele espaço.

Vale a pena olhar para este filme como oportunidade para reencontrar dois atores histriónicos, que marcaram a época em que muito divertiram quem os pode apreciar com a inocência entretanto desaparecida. 

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