sexta-feira, fevereiro 05, 2021

(DIM) Rio sem Regresso, Otto Preminger, 1953

 

O rio era sem regresso, mas ao filme apetece voltar sempre que nos dá a vontade de apreciar um daqueles exemplos em que a superlativa paisagem funciona como personagem por direito próprio. Sobretudo quando há a possibilidade de o ver no formato, que era uma novidade, quando Preminger o dirigiu: o cinemascope.

Rodado na parte canadiana das Montanhas Rochosas foi o único western a que o mestre Otto se abalançou, quando pretendia consolidar o prestígio junto dos donos dos estúdios de Hollywood. Necessitava para tal de um daqueles êxitos comerciais, que garantisse um bom retorno ao investimento dos produtores sem transigir na sua qualidade. Marilyn também pretendia libertar-se da condição de loira tonta com que tinha sido conotada até então, mesmo chegando a temer que ninguém desse por isso, tão avassaladora seria a impressão causada nos espectadores pela majestosidade das montanhas ou pelas buliçosas cascatas do rio.

A história é a de um homem, Matt, que sai da prisão para estabelecer uma relação próxima com o filho a quem quase não conhecera e, pelo caminho, vê-se emparceirado com a cantora de saloon a cuja guarda ele fora, no entretanto, confiado. Há ataques de índios, garimpeiros pouco escrupulosos, pumas esfomeados e um noivo decidido a tudo fazer para lhe caber uma parte do prometido por essa corrida ao ouro em curso nesse ano de 1875, quando tantos ali foram atraídos por expectativas, quantas vezes tragicamente concluídas..

O rio sem regresso acaba por ser a metáfora de um amor em cujos enleios os personagens se enredam para nunca mais deles se libertarem, quando se lhes rendem. E o miúdo acaba por descobrir na prática como o mandamento bíblico do «Não Matarás» pode ser relativizado por força de incontornáveis circunstâncias.

Para todos eles - Preminger, Mitchum ou Marilyn - este é um título recorrente, quando ponderamos do que deles melhores experiências colhemos enquanto cinéfilos.

 

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