segunda-feira, fevereiro 08, 2021

(DIM) A Vergonha Negra

 

A expressão era-me desconhecida até agora, mas um documentário de Dominik Wessely deu-ma a conhecer bem como ao seu significado, afinal bem conhecido na Renânia alemã. A Vergonha Negra.

Tudo começou logo após a assinatura dos acordos de Versalhes com que se julgaram saldadas as contas da Primeira Guerra Mundial: cem mil soldados franceses foram enviados para essa região, doravante ocupada. E para que os alemães se sentissem mais humilhados, vinte mil provinham das colónias francesas, nomeadamente da Tunísia, de Marrocos e do Senegal. Árabes, negros, indochineses a controlarem os movimentos de populações, que se arrogavam de outra cultura, de uma clara superioridade racial.

Não tardou que tais soldados fossem alvo de uma campanha difamatória não só dos extremistas de direita, que viriam a engrossar as hostes nazis, mas também dos sociais-democratas entre os quais do incensado Friedrich Ebert.

O racismo hediondo dessas campanhas não obstou a que muitas mulheres com eles se deitassem e tivessem filhos com as consequências imagináveis para quanto viriam a sofrer durante a infância e juventude. Muitos deles viram-se sujeitos a operações de esterilização, que os privassem de terem filhos e não continuassem a contaminar a «pureza da raça alemã». Mas não só: viam-se marginalizados nas escolas, nos empregos, e na Wehrmacht onde eram prioritariamente colocados nas linhas da frente para mais prontamente morrerem.

O que Dominik Wessely revela são casos concretos de pessoas sujeitas a tais sofrimentos ou dos que os conheceram e tiveram a coragem de serem seus amigos. Para que recordemos quão intemporal pode ser a bestialidade racista...

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