terça-feira, fevereiro 23, 2021

(DIM) Já que a Berlinale só virtualmente se realizará...

 

Estamos em vésperas da Berlinale de 2021, um dos mais importantes festivais de cinema, que decorrerá entre 1 e 5 de março apenas em modo virtual, porque assim o dita a pandemia. Daí que o canal ARTE aproveite a ocasião para integrar na sua programação alguns filmes e documentários, que têm a ver com a história passada do festival.  De entre eles o quinto filme de Mia Hansen-Løve, O Que Está por Vir, que ganhou o Urso de Prata no certame de 2016.

Isabelle Huppert é Nathalie, uma professora de filosofia, que vive obsessivamente a missão de aprender e ensinar, publicando sucessivos livros numa editora cada vez mais renitente em manter essa colaboração, que ela nem sequer imagina estar em causa. Como não imagina que a sua vida familiar, confortavelmente pequeno-burguesa, possa ter um fim até ao momento em que descobre a infidelidade do marido com uma das suas alunas.

Mia Hansen-Løve, que já nos habituámos a olhar como uma das mais interessantes realizadoras do cinema francês, cuida aqui da relatividade das certezas e de como do seu estilhaçamento há sempre a possibilidade de se ir à procura de uma reinvenção de si mesmo. Subitamente atraída por um antigo aluno Nathalie vai descobrir uma forma alternativa de se viver, ao habitar por alguns dias uma comunidade de jovens, que a aceitam sem qualquer reserva por muito que, na cultura e nos valores, ela tão distinta deles se sinta.  Pelos luminosos olhos de Isabelle Huppert descobre as virtualidades de possíveis utopias.

Para os mais cinéfilos o documentário Lotte Eisner: pour l’amour du cinema, realizado por Timon Koulmasis (2020) é um verdadeiro acontecimento. Porque Lotte Eisner foi uma das mais importantes historiadoras e críticas do cinema do século XX, criando a meias com Henri Langlois a Cinemateca Francesa para preservar os negativos, os adereços, os cenários, os cartazes e outra memorabilia dos filmes de outros tempos.

Nascida em 1896 numa família judia berlinense, Lotte Eisner exilou-se em França, quando os nazis chegaram ao poder e seria figura incontornável da cultura parisiense nas décadas seguintes. Um dos seus ensaios, L’écran demoniaque é leitura obrigatória para quem quiser analisar o expressionismo alemão.

Desaparecida em 1983 todos os cinéfilos devem a Lotte Eisner a possibilidade de acederem a obras, irremediavelmente perdidas, se, com Langlois, ela não lançasse a necessidade de cuidar dos filmes com o mesmo desvelo dado nos demais museus às obras neles conservadas. 

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