terça-feira, fevereiro 16, 2021

(DIM) Um herói cinematográfico, afinal bem cobarde na vida real

 

Em 7 de dezembro de 1941 a América ficou em choque com a destruição da base de Pearl Harbour, apesar de existirem teorias sobre o conhecimento prévio de Franklin Roosevelt ao que iria suceder por assim ter a oportunidade de derrotar definitivamente os isolacionistas pró-nazis que. tendo em Charles Lindbergh uma das suas figuras de proa, exigiam ver o país à margem do que estava a passar-se na Europa, na África e na Ásia.

Em Hollywood foram muitos os realizadores, técnicos e atores, que decidiram alistar-se nas forças armadas para ajudarem a derrotar as forças do Eixo. Por essa altura também começavam a ficar inquietos os oligarcas capitalistas, que tinham feito planos para concertarem-se com Hitler, com quem haviam aliás feito bons negócios, mas agora viam a Wehrmacht aproximar-se de Moscovo sem a conseguir conquistar, Leninegrado a resistir a um cerco, que se prolongaria por mais de novecentos dias e, sobretudo a partir de julho de 1942, enredar-se no vespeiro que seria Estalinegrado.

Assumidos antifascistas viram a oportunidade de combaterem ao lado do Exército Vermelho e até presumíveis espiões do Reich - como Errol Flynn - não se poupavam ao ímpeto nacionalista. Mas um faltaria clamorosamente à chamada: John Wayne! Os seus 34 anos não serviam de desculpa para não se descartar do que outros viam como um dever. Clark Gable já ia nos quarentas e não foi isso que o impediu de se envolver em combates de vida ou de morte com os inimigos. E o próprio John Ford foi dos primeiros a optar por essa decisão, apesar de já se abeirar dos 50 anos e até vir a ficar zarolho na batalha de Midway.

Em cartas que enviava a esse seu mentor, John Wayne pedia-lhe conselho sobre a melhor altura para se alistar já que, perante a falta dos atores mobilizados para os teatros de guerra, Hollywood carecia enormemente de quem protagonizasse os filmes saídos da sua ininterrupta máquina de produção. Daí até ser possível hoje vermos Wayne a interpretar papéis de comédia, não propriamente os que melhor se ajustavam ao seu estilo.

A procrastinação quanto à data em que vestiria finalmente a farda levou a que, na realidade, Wayne nunca a envergasse senão nos muitos filmes de guerra, que depois interpretaria. Como se, através deles, quisesse compensar a cobardia e o interesse financeiro, que lhe norteara os passos nesses anos finais da Segunda Guerra Mundial.

John Ford, que dele necessitava como mais talhado alter ego para os seys filmes, não se eximia de o humilhar durante as filmagens lembrando-lhe que, na altura devida, ele falhara o encontro com a possibilidade de ser herói na vida real em vez de apenas o querer ser nas telas. 

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