Andava pelos meus vinte e poucos anos, quando comecei a ser assíduo leitor dos romances de Stephen King. Fazia longos períodos de embarque no alto mar e a leitura por eles proporcionada era ideal naqueles dias de esforços mais exigentes em que a cabeça pedia para não ser confrontada com ideias complexas ou prosas rebuscadas.´
Já aqui lembrei a noite em que saí de Buenos Aires em direção a Mar de la Plata e passado o jantar, peguei na versão espanhola de Cujo, acabada de adquirir numa livraria da Avenida 9 de Julho, só o largando na última página, quando estava a ser chamado para as manobras de entrada no porto de escala na manhã seguinte.
Desde então foram muitos os livros que dele li, muitos os filmes deles retirados que vi, mais ou menos fiéis ao que, enquanto leitor criara no meu imaginário, ganhando simpatia por quem, politicamente, se comprometia com a agenda política do Partido Democrático.
Acontece, porém, que o enfado se foi instalando, e prevalecendo a ideia de sempre encontrar mais do mesmo. E, pior ainda, com o escritor a dar-se ares doutorais de quem muito tem a ensinar aos aprendizes de feiticeiro, igualmente, decididos a replicar-lhe os passos na criação literária. Não sendo um grande escritor - da estatura de um Philip Roth, de um Don DeLillo ou de um Paul Auster só para referir três dos que mais me agradam na literatura norte-americana contemporânea - King passou a comportar-se como se assim fosse.
Que escreve com a rapidez do bip bip a escapar-se das armadilhas do coiote ninguém duvida. Assim como encontrou engenho de fazer coincidir os fins dos capítulos com os momentos de maior ansiedade ou tensão sentidos pelo leitor. Nas suas histórias o quotidiano mais banal transforma-se num espaço de inquietante estranheza.
O problema é que o seu método tende a repetir-se sem surpresas: uma situação inicial traumatizante, duzentas ou trezentas páginas em que nada de relevante se passa a não ser as redundantes caracterizações dos espaços sempre habitados por personagens estereotipados, sem grande substância, e um final em crescendo numa intensidade que coincide com as derradeiras páginas, se não mesmo com a derradeira.
Que continua a ser leitura agradável para momentos em que as meninges requeiram maior lentidão nos fluxos entre os neurónios, não ignoro. Que seja literatura com maiúscula, decerto que não!
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