sábado, dezembro 07, 2019

Inquietações: Quando a emenda não parece ser melhor do que o soneto


Uma entrevista com Leonardo Padura dá-me conta do seu crescente desencanto com a situação vivida em Cuba. Embora não tenha optado pelo exílio entristece-o a perda de valores a que foi assistindo a partir dos anos 90. A Revolução em que chegou a acreditar foi-se transfigurando em algo muito diferente do que a sua geração imaginara, não se criando expectativas quanto a uma milagrosa regeneração. Daí que Mario Conde, o ex-polícia, que lhe serve de alter ego protagonizando muitos dos seus romances, venha evoluindo para um estado depressivo próximo do desespero - apenas mitigado pela excessiva ingestão de rum de má qualidade!  Porque nem ele, nem ninguém de bom senso, admite que a rendição ao execrado modelo económico, dado como irreversivelmente derrotado pela revolução dos barbudos, constitua mais do que uma ilusória panaceia, depressa reduzida ao que se vem vendo na Rússia e em todos os antigos regimes ditos socialistas cuja viragem para o cânone ocidental traduziu-se no obsceno enriquecimento de uma oligarquia corrupta e no agravamento da miséria e das desigualdades para quantos se deixaram enganar pelas falsas promessas de apelativos devires cantantes...

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