segunda-feira, dezembro 16, 2019

Inquietações: “Inquéritos” sobre comportamentos sexuais


Não estamos propriamente na época de verão, quando as notícias escasseiam e a imprensa alterna os «dantescos» incêndios com os dos bikinis nas praias algarvias. Em tempos idos a moda estival incluía a obrigatória publicação de inquéritos sobre os costumes sexuais dos portugueses destinados a alcançarem-se maiores tiragens ou audiências.
Na semana transata andou por aí um inquérito desse tipo, desfasado sazonalmente, e referente às experiências dos estudantes universitários quanto aos assédios de que se possam sentir alvos. E os resultados justificaram abordagens, ora inquietas, ora apenas traduzindo o pulsar de uns excitados voyeurs. Por norma não dedico a tais «peças jornalísticas» mais do que breve passagem pelo título, mas António Guerreiro, na crónica semanal no «Ípsilon» refere-a de acordo com a perspetiva desconfiada, que costuma ser a minha: “não é verdade que nas coisas do sexo ninguém diz a verdade? Seja porque queremos estrategicamente ocultar aos outros o que pertence à nossa intimidade, seja porque quase sempre, nesta matéria, mentimos a nós próprios, instalamo-nos na mentira e é preciso um longo trabalho analítico para sair dela. Por isso é que estes domínios são muito mais complexos do que nos querem fazer crer.”
À exceção dos trabalhos de Masters & Johnson ou de Shere Hite, que se fundamentavam em métodos científicos com alguma consistência, nunca dei crédito às conclusões sobre os hábitos sexuais de um qualquer universo estatístico. Na sua multiplicidade o tema não se compadece com tratamentos jornalísticos motivados por exclusivas motivações comerciais. A lógica das fake news também passa por ele...

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