segunda-feira, dezembro 09, 2019

Diário de Leituras: Miguel Angel Asturias, um Nobel guatemalteco


Miguel Angel Asturias foi um daqueles autores latino-americanos, que sempre quis ler, mas sucessivamente secundarizado perante outras opções mais apelativas. Por isso o romance, cuja leitura agora encetei - «O Senhor Presidente» - esperou muitos anos nas prateleiras da biblioteca pessoal até finalmente delas o resgatar para concretizar o remoto objetivo. Será, por isso mesmo, um título que repetidamente aqui abordarei, enquanto durar essa descoberta.
Numa primeira investida fiquemo-nos pelos factos mais relevantes da vida do escritor e que, direta ou mais implicitamente, explicam a génese da sua narrativa.
Asturias nasceu na Guatemala quando o século XIX estava a pouco mais de dois meses de ser dado como enterrado, e ficaria celebrizado pelo Prémio Nobel outorgado em 1967, o mesmo ano em que foi convidado para presidente do júri do Festival de Cannes.
Começou por estudar para médico, mas detestou a opção e mudou-se para a advocacia, formando-se com uma tese sobre um assunto que sempre o preocuparia: os direitos dos índios.
Na juventude militou ativamente para o derrube do ditador Manuel Cabrera e partiu para Paris a fim de estudar antropologia na Sorbonne com o professor Georges Raynaud. O ambiente cultural de Montparnasse estimulou-o e encetou o percurso literário com a publicação de «Leyendas du Guatemala» em 1930.
Regressou então à cidade natal e dedicou-se à política, sendo eleito deputado a partir de 1942. Quatro anos depois iniciou a carreira diplomática, que o levou sucessivamente ao México, à Argentina, a El Salvador e a França, tendo pelo meio um período de exílio na Argentina entre 1954 e 1961.
Conciliando a atividade diplomática com a de escritor, publicou «O Senhor Presidente» em 1946, inserindo-se no grupo de escritores de expressão hispânica, que glosaram o tema do ditador, e constituído, entre outros, por Valle-Inclàn, Gabriel Garcia Marquez, Vargas Llosa ou Augusto Roa Bastos.
A sua obra mais elogiada apareceria três anos depois: «Hombres de maiz», que constituiu obra de referência do realismo mágico na forma como abordou a exploração colonial dos trabalhadores nas plantações de bananas pelas multinacionais norte-americanas. Mas «Viento fuerte» (1950), «El Papa Verde» (1954) ou «Los Ojos de los Enterrados» (1960), também são tidos como obras merecedoras de atenção.
Antes da Academia Sueca a União Soviética atribuiu-lhe o Prémio Lenine em 1966. Seis anos depois «Viernes de Dolores» constituiria uma espécie de testamento na forma de uma história semiautobiográfica.  A doença já o estava a afetar há vários anos, não constituindo surpresa a notícia do seu óbito em 1974, quando nós ainda dávamos os primeiros passos na nova realidade suscitada pela Revolução dos Cravos.

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