terça-feira, dezembro 10, 2019

Diário das Imagens em Movimento: «Sexta-feira 13» de Sean Cunningham (1980)


Costumo fazer gala do prazer que retiro da fruição de filmes de terror. Mas convenhamos que há filmes ... e filmes! Nos de George Romero com zombies consegui ver excelentes críticas ao capitalismo, nos de série B dos anos 50 não é difícil olhar para os extraterrestres ou para os diversos monstros como sucedâneos dos russos prestes a invadirem uma América onde o medo das bombas atómicas e o macartismo estavam na ordem do dia.  Nos da Hammer dos anos 60. com ou sem Drácula, há a elegância dos ambientes góticos, que valem por si e ajudam a credibilizar a coerência das intrigas, tanto mais que eram interpretadas por atores dignos desse nome, muitos dos quais vindos dos palcos shakespearianos.
Não é esse, porém, o caso de «Sexta-feira 13» de Sean Cunningham que, em 1980, foi violentamente trucidado pela crítica, mas conseguiu tal sucesso junto do público-alvo - os adolescentes! - que se viu promovido a filme de culto, com diversas sequelas a repetirem saborosos retornos dos investimentos arriscados pelos seus produtores.
A apreciação do filme deixa de ter a ver com o seu nulo conteúdo, mas com a compreensão do fenómeno sociológico associado: o de compreender porque jovens se deleitavam com uma inexorável sucessão de mortes violentas e muito sangue à mistura. Não será preciso muito esforço das meninges para entender o efeito entorpecedor de tais histórias numa geração que, depois do sucesso em conter as revoltas estudantis da que a precedera, havia que nela preparar a pretendida reformatação: a da contrarrevolução reaganiana, que empolaria as virtudes em se terem armas em casa e se execrarem os tidos por liberais (no sentido norte-americano do termo, que nada tem a ver com a dos que como tal se invocam entre nós).
Vista a história aquilo é demasiado mau para se acreditar minimamente na parecença com uma qualquer realidade. Os crimes são quase todos cometidos às escuras, que é a forma mais expedita de evitar grandes exigências técnicas ou interpretativas. Os atores são todos maus, mesmo havendo entre eles um Kevin Bacon muito jovem, quase irreconhecível. E a montagem é das mais básicas, que se podem analisar, tão evidentes são as muitas faltas de raccord.
Razão para relativizar a jactância da frase com que confesso o gosto pelos filmes do género. Ainda que interessante quanto às razões, que lhe estiveram na génese, este não tem verdadeiramente ponta por onde se lhe pegue...

Sem comentários: