A exemplo do que se passa entre nós com Lobo Antunes, existe uma campanha internacional em favor de Karl Ove Knausgård, escritor norueguês apresentado como se fosse um génio, mas de facto apenas caracterizado por um umbigo tão inchado quanto o do autor de «Memória de Elefante».
Das bandas norueguesas revela-se bem mais interessante Tomas Espedal, professor da universidade de Bergen que, a exemplo do seu sobrevalorizado compatriota, escreve sobre a monotonia, mas com uma diferença não despicienda: colocando-se à margem do centro do mundo, antes o observando com o distanciamento de quem melhor o quer entender. Por isso mesmo o terrível massacre de Utoya está omnipresente no seu título mais recente: «Bergeners».
O tempo, quase sempre cinzento e chuvoso, constitui para Espedal uma boa explicação para o desânimo, que a todos parece contagiar. Pesa sobre as consciências e fá-las sentir esmagadas, indefesas, deprimidas. Mas o excessivo bom tempo, com sol a rodos, também desconcerta por parecer tão esdrúxulo na vida de quem a ele tanto se desabituou.
A melhor solução para Espedal é sair de Bergen, cidade natal com que mantém uma relação ambígua de amor/ódio. Até diz que ela tende a melhorar sempre que ali se demora o mínimo possível. Quando, pelo contrário, os compromissos o demoram, aproveita a Natureza como paliativo até por estar acessível a curta distância da cidade.
«Bergeners» encontra explicação numa das suas páginas: após a publicação do primeiro livro, foi convocado pelo editor a ir a Oslo. Também natural de Bergen, Glydendal ter-lhe-á dito para se afastar dali tanto quanto possível, porque arriscava-se a vir a ser um «bergener». Seguindo-lhe o conselho cirandou por tantos e tantos lugares, começando o livro em Nova Iorque e concluindo-o em Berlim, vertendo para o papel um registo pessoal sobre as experiências vivenciadas longe de casa, mas escusando-se a adotar o registo do diário. O intuito aparece explicito a meio, quando diz a um amigo: «Não devemos perder-nos num universo inventado e hipotético, numa literatura falsa; o que escrevemos deve ser verdadeiro, e devemos descrever a realidade com seriedade e determinação.»
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