quinta-feira, setembro 20, 2018

Para acabar de uma vez por todas com o Invejoso, o Delirante e o Pedante


Foi François Truffaut quem disse um dia só escrever sobre os filmes de que gostava, resguardando-se no silêncio quando assim não sucedia. Há também aquela situação clássica do pai moralista que manda o filho só abrir a boca para dizer bem de alguém, poupando-se ao exercício da maledicência.

Como sempre preferi Godard a Truffaut e o meu pai nunca me deu conselhos, que justificassem que os seguisse, dou-me ao prazer de dedicar um texto de hoje a execrar três dos meus ódiozinhos de estimação, que me dão o proveito de aliviarem o fígado do desagradável excesso de bílis, sempre que dou largas aos meus maus sentimentos a seu respeito.
O primeiro é António Lobo Antunes, escritor que estimei nos primeiros romances, mas cada vez mais esconjurado à medida, que ia publicitando o seu próprio odiozinho por José Saramago. Ora, para mim, dizerem mal do autor de «Ensaio sobre a Cegueira» ainda causa maior indignação do que sentiria um fiel súbdito da Monarquia inglesa perante quem lhe quisesse afiançar alguma das pícaras estórias de alcova em que a família de Isabel II é fértil. A partir de certa altura deixei de nomear Antunes pelo nome passando a ser designado como o «Invejoso», sobretudo pela autoconfissão da raivinha mesquinha, que lhe dera ao saber que o rival ganhara o almejado Nobel.
Vale-nos que ele continua a dar provas dos seus baixos instintos como o confirma na crónica desta semana na «Visão» em que escreve preto-no-branco : “Tenho imensa inveja dos pintores porque a gente pode ver o que estão a fazer, enquanto aquilo que eu faço são palavras em folhas de papel.”
Se mais provas fossem necessárias o invejoso tratou de as reconfirmar...
Outro exemplo é o do antigo ministro da Agricultura, António Barreto, conhecido por ter dado cabo da Reforma Agrária, não hesitando em enviar contingentes policiais para desocupar à bruta os latifúndios destinados a serem devolvidos aos seus antigos exploradores. Também o ex-socialista, que se foi orientando tanto para a direita, que depois de caucionar o governo revanchista de direita liderado por Sá Carneiro, continuou no seu afã reacionário, não me admirando que um dia destes o vejamos a cotejar Carmona Rodrigues junto de Cristas ou a dar a mão ao arrivismo de Santana Lopes.
Se o chamo, porém, à colação foi por, no «Horas Extraordinárias» (RTP2) de ontem ter surgido a debitar umas tolices a propósito das fotografias feitas no Mosteiro da Batalha, mostrando-se ufano de até identificar na sua estatuária alguns índios do Brasil. Ora, tendo em conta, que o monumento foi construído entre o final do século XIV e o início do seguinte, é espantoso como o Barreto nele «viu», quem só chegaria ao conhecimento da corte portuguesa no início do século XVI.
Talvez por ser casado com a Mónica, que ainda há pouco se gabava de ter sido uma miúda toda gira há alguns anos atrás, os delírios de Barreto não deixam de ser risíveis.
Estava ainda surpreendido com a «descoberta» do sociólogo tão apreciado pela família do Pingo Doce, quando a Teresa Nicolau, ao despedir-se, faz a promoção de um livro de poemas de Vasco Graça Moura, de quem afiança sentir saudades. Aí a minha boca abriu-se de espanto:  saudades de um pedante, que dedicava grande parte do seu tempo a escrever prosas torpes sobre a esquerda em geral e os socialistas em particular? Vade retro! Não há versos nem traduções que o poupem ao merecido esquecimento.

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