Em 1956 o Mestre já se convertera num convicto anticomunista, quando realizou este remake de um filme, que assinara em 1934. Um casal de pacatos norte-americanos vê-se envolvido numa intrincada trama de espionagem, que os leva de Marraquexe até Londres e consegue evitar in extremis um atentado contra o primeiro-ministro inglês. A dirigir a orquestra no concerto onde esse desenlace se cumpre está o notável Bernard Herrmann, compositor das partituras mais interessantes que o cinema de Hollywood no seu período mais dourado produziu.
O filme vale, igualmente, pelas aparências: nada do que parece ser se confirma que é. Há gente normal confundida com espiões, franceses mascarados (ou mascarrados!) de árabes, pistas sobre locais, que conduzem a pessoas espantadas por serem interpeladas por supostamente saberem o que não sabem ou uma canção comercial (“Que sera, sera”!), que serve para bem mais do que motivo de espanto para quem a julgava improvável na voz de quem a entoa. Mas o exercício pode ir muito mais fundo, porque gente em quem se confia não merece a deferência, sobretudo por serem os maus da fita disfarçados de religiosos.
Há também o pormenor do primeiro crime ser executado com um punhal desferido nas costas da vítima confirmando a tendência de Hitch para recorrer a uma circunstância, que nos impede de conhecer, de imediato, quem o cometeu.
Apesar do que se pretendia com a distribuição do filme ele é um regalo para quem assiste e as duas horas passam num instante. Até conseguimos gostar de Doris Day num desempenho, que não era propriamente aquele em que mais se especializara.
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