O filme de Alfonso Cuaron está fadado a constituir um dos maiores acontecimentos cinematográficos do ano depois de ter sido conhecido no Festival de Veneza e merecido quase unânime aplauso da crítica.
Há cinco anos, quando também apresentara «Gravidade» na cidade dos doges, Cuaron já anunciara a intenção de se dedicar a este filme, porventura buscando caução íntima para compensar aquele título de ficção científica sem qualidades dignas de nota, embora representasse o típico cinema comercial tão do agrado dos produtores de Hollywood.
Entre essa treta com Clooney e Bullock e este «Roma» as semelhanças serão nenhumas. Veja-se, desde logo, a utilização do preto-e-branco numa fotografia que o trailer prenuncia ser bastante apetecível para o prazer do nosso olhar. Mas há também a estória, ou melhor as estórias de uma família burguesa durante um ano, com o foco direcionado para duas mulheres notáveis: a mãe de quatro filhos, que vê o marido sair de casa, e a empregada indígena cujo papel de esteio na vida dos que quase não dão pela sua existência, é fundamental. Não há aqui cedências às receitas de bilheteira através de atores e atrizes de primeiro plano, que caucionem o investimento. E fala-se num espanhol, que vai ganhando crescente influência na América de um Trump, que figura como um frágil dique contra uma incontornável vaga demográfica.
«Roma» - que deve o nome ao bairro homónimo da Cidade do México - também está a ser muito referenciado por se tratar de uma produção da Netflix, confirmando-se a ideia de marginalização dos circuitos de distribuição convencionais no que de mais interessante se está a produzir na sétima arte. Nesse sentido os tempos estão a ser de acelerada mudança, quer na estética, quer nos valores, quer na comercialização do labor dos cineastas mais interessantes do nosso tempo. Para já fica a certeza de ainda muito se vir a ouvir falar do filme de Cuaron nas semanas que virão...
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