terça-feira, setembro 18, 2018

(DL) «Vinte Mil Léguas Submarinas» de Júlio Verne (3)


Todos os anos há inúmeros cientistas a mergulharem nas profundidades oceânicas para desvendarem os segredos do que nelas se ocultam. Trata-se de um mundo pela primeira vez imaginado com alguma substância pelo escritor francês Júlio Verne através de uma das suas mais notáveis criações. A grande maioria dos leitores de então não tinham a menor ideia de como eram os oceanos. Não sabiam nadar, nem provavelmente tinham tido qualquer contacto com as paisagens marítimas. Imagine-se, pois, a sua estupefação  perante a miríade de criaturas maravilhosas aí descritas e de como poderia ser possível vê-las a partir de uma máquina de que (quase) ninguém suspeitara poder existir.
Um dos primeiros filmes a recorrer a efeitos especiais com grande ambição de parecerem credíveis foi a primeira adaptação do romance em 1916, que também inovador na forma como se captaram imagens debaixo de água. Mas não foi só matéria para realizadores avançarem para a tradução cinematográfica, que Júlio Verne suscitou. Um dos desafios lançados pelo livro foi o de ser possível a movimentação de mergulhadores dotados de aparelhos autónomos de respiração, que só apareceriam mais de setenta anos após serem descritos no romance, quando Jacques Cousteau inventou os cilindros de mergulho. O escritor baseara-se nos fatos já existentes para resgates em minas inundadas e «transferira-os» para o ambiente marinho, onde seriam o santo graal do novo desporto e profissão.
Jean Michel Cousteau recordava como, já em 1954, a equipa do «Calipso» já ia a mais de dois mil metros de profundidade para resgatar peças cerâmicas da Antiguidade, ainda lacradas, havendo no seu interior um intragável vinho milenar. O que se revelou muito mais complicado do que para Nemo e seus companheiros, foi a possibilidade de contornar o problema das pressões extremas sentidas a maiores profundidades e até mesmo os longos períodos de descompressão em várias fases da subida à superfície, mesmo para mergulhos abaixo dos sessenta metros. A solução só viria a ser possível com engenhos submersíveis capazes de manterem no interior uma atmosfera muito semelhante à respirada acima da superfície do mar.
Verne pareceu ser mais efabulador do que a realidade, quando atribuiu propriedades bioluminescentes a tubarões gigantes capazes de esmagarem um mergulhador entre as suas mandíbulas. Embora este lado mais folclórico não se verificasse, tais características estão presentes em inúmeros seres das profundidades, que a ciência moderna veio a identificar.
Há também o deslumbramento de Aronnax perante a constatação da sustentabilidade do Nautilus com recursos exclusivamente recolhidos do mar. Comida, roupas, energia, papel, tinta e até os charutos quase tão bons quanto os havanos eram garantidos pela recolha do que as paisagens marinhas iam proporcionando aos viajantes do submarino. A ciência atual ainda não conseguiu esse estado de desenvolvimento, que permite a Nemo cultivar uma pérola gigante numa ostra igualmente dopada para a produzir. Mas as viagens submarinas, que se têm realizado nos últimos anos, abrem grandes expetativas quanto aos recursos por explorar e que poderão vir a ter um impacto notável na qualidade de vida da Humanidade nas próximas décadas.

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