segunda-feira, setembro 17, 2018

(DL) «Vinte Mil Léguas Submarinas» de Júlio Verne (2)


O amor de Júlio Verne pelo mar começou na infância: nascido e criado em Nantes, na costa atlântica francesa, Júlio e o irmão Paul partilhavam o sonho de virem a empreender viagens marítimas. Mas enquanto o mais novo conseguiu entrar para a Marinha Mercante o pai de ambos tinha planos muito precisos para o primogénito: teria de seguir a tradição familiar, tornando-se advogado.
Enviado para Paris para estudar Direito, dá com a cidade em grande tumulto, suscitado pelos acontecimentos revolucionários desse ano de 1848. A monarquia voltava a desmoronar-se perante a dinâmica contestatária. Impressionado por tudo quanto assistia, o jovem começou a sentir-se tentado pela carreira de escritor. O sucesso, porém, demoraria a chegar: anos a fio penou como dramaturgo de escasso talento até decidir-se pela criação de romances. Foi quanto bastou para se tornar num fenómeno de vendas, ganhando prestígio internacional.
Aos quarenta anos estava casado e usufruía uma qualidade de vida burguesa ao melhor estilo tradicional. Com as receitas propiciadas pelos seus romances «Viagem ao Centro da Terra» e «Da Terra à Lua» conseguiu cumprir o sonho de adquirir um pequeno iate com que poderia satisfazer o gosto pelo alto mar. A bordo concebeu a existência de uma embarcação submarina, o Nautilus, associando conhecimentos científicos consistentes com uma grande dose de imaginação. Só sessenta anos depois é que o primeiro batiscafo começou a prospetar as profundezas, que Verne supusera acessíveis na sua narrativa ficcional. E só em 1960 foi possível chegar às maiores profundezas conhecidas, abaixo dos dez mil metros de profundidade, na fossa das Marianas e pleno oceano Pacífico.
O Nautilus do capitão Nemo conseguia ir mais além, porque desconhecendo-se na altura a verdadeira profundidade máxima dos oceanos, Verne previu que ela rondaria os catorze mil e quinhentos metros e estaria habitado por antepassados pré-históricos para satisfação do professor Aronnax, o narrador e alter ego do autor que, conjuntamente com o criado Conseil e o arpoador canadiano Ned Land, ficara aprisionado no luxuoso submarino ainda que usufruindo das regalias de convidados. Para seu espanto, para além de uma riquíssima biblioteca, deparam com um museu recheado de inúmeros exemplares de todas as criaturas existentes abaixo da superfície oceânica. E pelos painéis envidraçados do salão veem desfilar à sua volta a riqueza inesgotável do reino natural em que se viam enclausurados.

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