segunda-feira, setembro 17, 2018

(DL) Três romances de luto no feminino


Todos os anos, por esta altura, celebra-se o início da nova temporada literária em França com o lançamento de uma caterva de romances, tão variados nos temas como nas opções narrativas para os desenvolver.
Três deles, de outras tantas mulheres, abordam o luto e o desejo de ressurreição de quem se perdeu.
A crítica da revista «Elle», Olivia de Lamberterie (à esquerda na foto) assinou «Avec toutes mes sympathies», tradução livre da expressão utilizada por Françoise Sagan, quando dava autógrafos nos Estados Unidos - «with all my sympathies» - sem compreender que, na realidade isso significava «os meus sentimentos» como se se dirigisse a quem tivesse perdido um ente querido.
No romance carpe-se a morte de um irmão, Alexandre, que decidira deixar de viver numa tarde de outono de 2015 e procura-se compreender que maldição pode acompanhar o fluxo sanguíneo dos Lamberterie, que possa pôr-lhe em causa o futuro dos três filhos. Por isso mesmo ela irá esforçar-se-á por que a vida se sobreponha à morte, através da beleza e do pensamento mágico.
Num texto que mistura o pessoal com a ficção, Sophie Daull (à direita na foto), aborda a necessidade de purificação num ambiente de extrema violência. Em «Au grand lavoir», a narradora tenta recriar o assassino da sua mãe, dando-lhe a palavra. Ele surge-nos assim como um jardineiro que, um dia, ao chegar do trabalho e ao acender a televisão, vê-a numa emissão literária e compreende ser ela a filha daquela que matou trinta anos atrás. Ao saber que ela prepara-se para apresentar o livro na cidade onde vive, ele vê posto em causa o microuniverso construído em torno de si, dada a intenção dela em o confrontar cara-a-cara.
Nas prestigiadas edições Minuit surge «Ça raconte Sarah», o primeiro romance de Pauline Delabroy-Allard (ao centro da foto) em que se lê “lavo o meu corpo como se lava um objeto sagrado”. Quem o diz é Sarah, uma incandescente personagem, que entra na vida de uma professora numa pequena cidade de província e lhe provoca uma paixão acima de quaisquer conveniências. A relação amorosa está, desde o princípio, ameaçada pela morte, que implicará o luto e o exílio em Trieste e em que é preciso recomeçar a viver sem quem se amou. Questionando-se se essa dimensão trágica e superlativa decorre precisamente desse anunciado luto desde que tudo começou?

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