Em agosto de 1971 ocorreu na Universidade de Stanford uma experiência, que se tornou mítica, coordenada pelo professor Philip Zimbardo, desde então tido como o teórico de uma variante do conceito da banalidade do mal.
Escolhidos 22 voluntários foram-lhes atribuídos os papéis e as fardas de guardas ou de prisioneiros, ocupando de imediato os lugares respetivos fora ou dentro das celas montadas na cave da instituição. As instruções dadas a uns e outros foram mínimas, cabendo-lhes a organização, que julgassem mais adequada à situação em que supostamente se encontravam.
Prevista para durar duas semanas, a experiência rapidamente degenerou, sendo interrompida ao fim de seis dias, porque os participantes teriam, entretanto, esquecido o tratar-se de uma experiência «científica» sem ligação direta com a realidade. Zimbardo apressar-se-ia a concluir que, “independentemente das nossas características pessoais, podemos ser conduzidos a praticar o mal por pressão do contexto prisional.”
Zimbardo pretendia garantir uma difusão tão alargada quanto possível da experiência, razão para distribuir à imprensa comunicados e imagens à medida que ela decorria. A época também era favorável a esse interesse público, porque acabara de ocorrer o motim na prisão de Attica, que se saldara por 40 mortos. Razão que também terá estado na origem do reinteresse pela experiencia em 2004, quando foram conhecidas as imagens registadas na prisão de Abu Ghraib.
Zimbardo voltaria à carga no seu ensaio «O Efeito Lúcifer» em que associou o sucedido em Stanford com o Holocausto ou o genocídio perpetrado pelos khmers vermelhos. Conferindo à experiência uma importância que não teve, quis dela retirar uma verdade universal, uma tendência histórica incontornável para que qualquer um considerasse que também poderia ter agido como vítima ou como torcionário.
Em «Histoire d’une Mensonge», recentemente publicado em França, o autor, Thibault Le Texier, dá conta dos esforços empreendidos para encontrar quem testemunhara os factos organizados por Zimbardo, concluindo que a realidade fora muito diferente da descrita no relato oficial. Se à partida pretendia rodar um documentário sobre o caso, depressa se deu conta, que lhe interessava bem mais revelar a enorme mentira, que ele representara. Porque não se tratava de um daqueles erros em que a ciência é fértil, sem que os autores das experiências em causa as manipulassem para corresponderem às conclusões previamente gizadas. O que concluiu foi ter existido a montagem de um logro, que lhe desse fama e interessasse a opinião pública.
E, no entanto, apesar de prontamente silenciadas, logo surgiram críticas de gente respeitável, como foi o caso de Erich Fromm, que contestou o insuficiente realismo das prisões, a fraqueza dos testes de personalidade aplicados aos voluntários de forma a afastar os sádicos ou o facto de nem todos os supostos guardas terem-se revelado torcionários. Zimbardo optou por concentrar-se nas críticas éticas ao sofrimento infligido aos encarcerados para as aproveitar precisamente como confirmação do que se apressara a concluir.
Desde então jornalistas e professores popularizaram a experiência sem se interrogarem sobre a sua efetiva e falaciosa valia.
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