Enquanto a obra de Yasujiro Ozu não regressa aos nossos ecrãs - depois dos franceses estarem a ter a oportunidade de verem algumas das suas maiores obras restauradas -, vale a pena desmistificar três lendas a seu respeito.
A primeira diz respeito à magnificência das suas criações: se os filmes do pós-guerra justificam essa ilação, os anteriores ao conflito são muito mais discutíveis. É que sendo um dos muitos cineastas contratados pelo estúdio Shochiku, que então produzia centenas de títulos por ano, Ozu era obrigado a imitar os colegas rodando pelo menos três. Ora, como depressa e bem não há quem, grande parte deles são mera curiosidade cinéfila.
O segundo tem a ver com a importância da família em quase todas as suas obras maiores. Ao contrário do que se poderia pensar Ozu nunca casou, nem teve filhos, vivendo sempre com a mãe. Por isso muitos dos problemas de relacionamentos familiares tratados nos seus filmes eram-lhe apenas conhecidos como observador.
O terceiro tem a ver com a serenidade zen dos seus filmes, que nos levaria a pensá-lo austero. Ora, grande apreciador de saké, é conhecido o episódio em que fechando-se num quarto de hotel com o argumentista para criarem «Viagem a Tóquio», quando de lá saíram, com o trabalho concluído, deixaram atrás de si uma montanha de garrafas vazias.
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