domingo, setembro 23, 2018

(DIM) «O Sorriso de Mona Lisa» de Mike Newell (2003)


Nem o realizador, nem a maior parte das atrizes (salve-se Maggie Gyllenhaal) me mereceriam grande crédito quando, por desfastio, comecei a espreitar para este filme de quinze anos atrás.
Confesso que a atenção, que lhe dediquei não foi muita, porque outras tarefas colaterais me iam ocupando as meninges. Mas dava para perceber que não ia perdendo grande coisa. É que, se o «Clube dos Poetas Mortos» era coisa enxuta, que exigiria outra dedicação, esta tentativa de Julia Roberts imitar Robin Williams acaba por ser coisa estapafúrdia. Porque, logo de início, qual a justificação para que uma azougada liberal californiana ambicionasse ser professora numa das mais conservadoras escolas secundárias do país, a muitos quilómetros de casa? Apenas a vontade de escapar a um namorado um bocado melga?
É certo que o filme «denuncia» o regresso a casa das mulheres que, durante a Segunda Guerra Mundial, haviam ocupado os lugares dos homens nas fábricas de todos os Estados Unidos. Em 1953, com a Guerra Fria como pano de fundo (ui que a Lucille Ball era comunista!) impõe-se às jovens adolescentes a vocação de virem a ser competentes donas-de-casa, sempre respeitadoras da vontade dos maridos. Até porque ver-se-iam brindadas com uma panóplia de eletrodomésticos reluzentes, que lhes daria a ilusão de suprema felicidade.
A pobre da Kirsten Dunst, a quem arranjam de vez em quando uns papéis, que a fazem cair em recorrentes depressões, faz aqui papel de má da fita. Denuncia a enfermeira, que fornece preservativos às colegas, conseguindo o seu despedimento. Repete a graça em relação à nova professora a quem acusa de não cumprir o programa detendo-se excessivamente na arte contemporânea. E até lixa a vida afetiva a uma colega particularmente ingénua, que perde namoro, porque enganada por quem se sente frustrada com o casamento para que a mãe a empurrara.
No final, embora despedida por não se coadunar com a mentalidade ultrapuritana da escola, a efémera professora de Wellesley vê-se vingada ao saber que duas das alunas - uma delas a arrependida delatora! - tratam de ganhar asas e partirem ao encontro do ambiente boémio de Greenwich Village.
Felizmente que a tarefa alternativa não me dava a má consciência de tempo ingloriamente perdido, mas convenhamos que, entre uma ou outra obra prima, somos abundantemente servidos de xaropadas sem nexo.

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