quarta-feira, maio 24, 2017

(DIM) O esquecido Hal Hartley

Será que Hal Hartley desapareceu dos radares dos cinéfilos? É uma pergunta lícita tendo em conta que, nos anos 90, ele era um dos mais estimulantes realizadores norte-americanos com direito a ciclos dos seus filmes nos circuitos de distribuição mais exigentes.
Consultando o que tem feito fica desmentida a sua paragem: na filmografia acrescentaram-se títulos mais recentes, mas nossos desconhecidos,  e até episódios de uma série televisiva de impacto não negligenciável (“Red Oaks»).  Aparentemente deixou de ter quem lhe financiasse a continuidade de uma obra completamente diferente da estabelecida pelos padrões de Hollywood.
De qualquer forma ele nunca voltou a conhecer o fulgor dessa fase já distante em que era associado a Jean Luc Godard, mas com uma estética mais apurada.
Em 1994 Isabelle Huppert rodou com ele «Amateur», quando ambicionava singrar no cinema do outro lado do Atlântico, comprovando a apetência por projetos arriscados. Ela é  uma freira, que saíra do convento após anos de devotada profissão de fé, e ainda acreditando-se movida por uma missão divina (mesmo que por esclarecer), vai ganhando a vida com narrativas pornográficas, que vai publicando.
Por mero acaso conhece Thomas,  a quem uma queda provocara inconveniente amnésia. Sobretudo porque não pode compreender a razão de ter uns quantos gangsters a querer abatê-lo. Ajudado por Isabelle, vai à procura do passado e conclui-o ligado a Sofia, uma estrela do cinema porno, igualmente ameaçada pelos mesmos perseguidores.
Os três juntam esforços para escaparem, ainda acompanhados por um contabilista do bando a que Thomas pertencera e sobre cujas vicissitudes consegue voltar a recordar-se. Durante esse processo de fuga, que os leva ao convento donde Isabelle saíra, começa a criar-se uma empatia amorosa entre ela e o novo cúmplice, inevitavelmente terminada em tragédia.


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