Se recuássemos no tempo e fôssemos com os nossos valores e conhecimentos para a época em que viveu Johann Sebastian Bach, não hesitaríamos em considera-lo um artista de vanguarda do seu tempo. Porque, muito embora tivesse conhecimentos profundos sobre a sua arte, ele não se contentava com os cânones, tratando de os subverter na medida do possível.
Essa constatação pode ser feita neste 6º Concerto Brandeburguês em que dá estatuto de solista a instrumento até então reduzido a papel secundário nas orquestras: a viola de braço.
A peça é tanto mais interessante, quanto Bach exclui dela o recurso a violinos, escolhendo acompanhar as duas solistas com outras tantas violas de gamba, um violoncelo e um baixo contínuo (cravo e contrabaixo).
No primeiro andamento os solos reproduzem o material proposto no ritornello, quase não se detetando a separação entre a atuação entre aqueles e o do conjunto da pequena orquestra. E é interessante detetar o ligeiro e pretendido desfasamento entre as duas solistas na interpretação das mesmas notas.
Após o segundo andamento em que as duas violas interagem com o cravista, chegamos ao terceiro andamento, uma giga em que esse diálogo é feito com o violoncelista, perdendo as violas de gamba o relativo protagonismo do início.
Uma vez mais trata-se de uma proposta musical para ouvir com grande disponibilidade, tanto mais que aqui é superiormente interpretada pela Orquestra Mozart, criada pelo nunca por demais lembrado Claudio Abbado.
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