Não integra o top dos melhores filmes, que vi na vida, mas não posso esquecer o fascínio suscitado por «Aguirre, a cólera dos deuses», o filme de Werner Herzog estreado a dias de acontecer a nossa revolução de Abril. Já então o tema era o da busca febril e insensata pelo inexistente Eldorado.
É certo que Klaus Kinski, com a sua loucura imprevisível, muito contribuiu para essa forte impressão, mas estava lá tudo quanto o meu lado adolescente ainda retinha como entusiasmante: os mistérios da selva, os perigos do tumultuoso rio, a invisível ameaça dos índios, a progressiva perda da razão num contexto marcado pelo medo e pelo absurdo.
Todos esses fatores estão em «A Cidade Perdida de Z», o filme de James Gray há pouco estreado. Com idêntico atrativo de se tratar de uma história real sobre um homem obcecado por descobrir o El Dorado e nele se perdendo.
Tratando-se de um irrepreensível entretenimento, o filme também o é na recriação dos ambientes e costumes do início do século XX.
Se o romance de David Grann era muito detalhado, mas de leitura cativante, o filme de Gray adapta os momentos mais palpitantes, traduzindo-os em imagens, mostrando a determinação de quem vê na exploração amazónica a possibilidade de ser reconhecido pelo seu valor, libertando-se da má-fama a ele co lada por celerado progenitor. Porque é essa a motivação de Percival Fawcett por muito que isso lhe custe as longas ausências de casa e, no final, a sua morte e a do filho.
O tema da família, tão identitário nos filmes do realizador, está aqui presente na forma dialética de se desejar estar num lado, mas o dever ou o querer, empurrarem-nos para outro. E há também o lado militante de se denunciar o tratamento soez dado aos índios pelos portugueses e pelos britânicos, uns e outros avessos a considera-los como seres semelhantes a nós. Algo que, infelizmente, ainda continua a verificar-se um século depois!
Sem comentários:
Enviar um comentário