As singularidades deste filme começam logo no título, que em português ganhou ressonâncias óbvias para os filmes de zombies, mas ao qual Wes Craven deu um título original completamente diferente, quando o rodou em 1988: «The Serpent and the Rainbow». Quem julga tratar-se de mais um daqueles filmes em que um conjunto de pessoas cercado por monstros saídos das sepulturas vai-se reduzindo progressivamente até ao momento decisivo em que, ou morrem, ou sobrevivem, consoante a má ou boa vontade da produção, sai redondamente enganado.
Aqui estamos no Haiti, durante a ditadura dos Duvalier, quando os Tonton Macoute cerceavam o desejo de liberdade e de democracia com o capitão Peytraud a ser um dos seus mais sinistros líderes por conjugar a tortura e o assassinato dos opositores com a magia negra, que deles lhe garantia o controle das almas.
Depois de uma experiência dramática na Bacia do Amazonas donde só conseguiu livrar-se depois de uma perigosíssima travessia da floresta e dos rios, o Dr. Dennis Alan da Universidade de Harvard é contratado por uma empresa farmacêutica para dirigir-se a Port-au-Prince e comprar um misterioso pó-branco, que teria a capacidade de devolver a vida - ou pelo menos uma certa aparência dela - aos que já tinham sido mortos e enterrados.
Bill Pullman desempenha esse papel, contracenando com Cathy Tyson, que personifica a bela psiquiatra Marielle, seu apoio nessa missão.
Nos dias seguintes ele vai aprendendo à custa de experiências à beira do inacreditável, quais os fundamentos das práticas vudu. O seu racionalismo científico vai sendo sujeito a rudes provas com sucessivas manifestações inexplicáveis. Por duas vezes é preso por Peytraud, que o insta a partir da ilha, mas Dennis sente-se não só condicionado pelo compromisso para quem lhe pagara a viagem, mas também pela proximidade cada vez mais óbvia com Marielle.
Conseguindo o pó, que logo começa a ser objeto de análise pela empresa farmacêutica que o contratara, ele regressa aos EUA, mas nem mesmo aí escapa aos atentados encomendados pelo sicário da ditadura. Razão para regressar ao Haiti decidido a derrotar o inimigo. Mas, caindo numa sua armadilha vê-se declarado morto e enterrado vivo, testemunhando o seu próprio martírio segundo a segundo.
Felizmente outros morto-vivo, que ele próprio interrogara, liberta-o do esquife no momento em que Baby Doc foge para Miami, o povo exulta nas ruas, mas Peytraud ainda quer praticar alguns dos seus malefícios. Num combate assanhado com muita presença do sobrenatural, Dennis derrota o inimigo. O dia seguinte anuncia-se sob os melhores auspícios para ele, Marielle e a maioria do povo haitiano.
De uma forma muito imaginativa, Wes Craven foi bem explicito no posicionamento político com a magia negra da ditadura a constituir metáfora óbvia ao capitalismo e com os efeitos especiais a terem a credibilidade bastante para a verosimilhança da história não ser posta em causa enquanto a vemos.
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