Não consigo ter ainda uma opinião fundamentada sobre o que de positivo ou negativo trará para Gulbenkian a diretora inglesa contratada há dez meses para reorganizar e congregar o Museu com o Centro de Arte Moderna.
Sei bem que o dinheiro do petróleo não é elástico e da gestão financeira da instituição não se podem esperar milagres, mas tenho saudades em que dali partiam investimentos para produções cinematográficas que o governo marcelista nunca possibilitaria ou existia uma Companhia de Ballet de referência a nível europeu.
De qualquer modo devo muito ao CAM o conhecimento da arte moderna portuguesa, tornando-me familiares as obras de um Cabrita Reis, Rui Chafes, Helena Almeida e muitos, muitos mais. E, assumidamente conservador no que tomo como gratificante, não vejo com bons olhos a diluição da sua coleção e iniciativas nas que dizem respeito ao Museu. Mas o futuro dirá se, depois de estranhar, acabarei por entranhar este novo conceito, decerto motivado por racionalização de custos.
Da entrevista que Isabel Salema fez a Penelope Curtis e inserida na edição de hoje do «Público» há duas características, que merecem relevo na nova diretora: a honestidade com que reconhece o escasso conhecimento do que foi a realidade artística lusa ao longo das últimas décadas e o desassombro com que diz algo em que também acredito. Não é por ter morrido cedo e ser autor de muitas obras estimáveis, que Amadeo de Sousa Cardoso deverá ser idolatrado como se de herói da pátria se tratasse. A História da Arte, que costuma ser bastante judiciosa no que define como perdurável ou não, já o arrumara como nota de rodapé na página dedicada aos artistas, que buscaram o ambiente parisiense nos anos anteriores à Primeira Guerra Mundial.
Se génios tivermos no universo da arte eles ainda estão por se revelar, restando-nos ir enaltecendo os que sobressaíram como mais talentosos, Vieira da Silva e Paula Rego incluídas...
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