“Graça juntava estes bocados e não sabia ainda qual era a verdadeira mensagem que todos eles, juntos, expressavam. E se poderia dizer que ela falava da sua própria terra, isso também só era verdade num nível bastante superficial: por trás havia muitas outras terras, havia uma terra onírica, alienígena, forçando sua expressão própria através dela, Graça.” (pág. 91)
Quase a chegar a meio deste romance, «O Chão Salgado», que Isabel Barreno publicou há um quarto de século, torna-se cada vez mais evidente a pertinência do tema: até que ponto pode o escritor esconder-se nos seus personagens? Até que ponto eles não lhe servem de estímulo para se questionar a si próprio?
Graça inventa personagens femininos com nomes começados por G (Gracinda, Graziela, Gisela, etc) e masculinos em V (Valentim, Valdemar, Vicente) e vai-os fazendo encontrar-se e desencontrar-se ao ritmo das respetivas peregrinações. O antigo estivador, a quem uma mal explicada agressão tornou paranoico, ciranda de terra em terra com a submissa esposa, dizendo-se pregador, mas mais parecendo saltimbanco. E o jornalista, que ajudara a fundar um partido político, interroga as pessoas para lhes tentar conhecer as aspirações e opiniões.
Há, porém, Camila, a personagem que foge à regra pré-estabelecida pela autora e se fechara na casa-casulo a ler atentamente o diário da tia-trisavó, suficientemente louca para ter vivido uma gravidez histérica.
Por esta altura questionamo-nos se Graça estará a sentir os limites de uma relação conjugal e de uma condição maternal em que a felicidade parece ausentar-se.
É a escrita como modelo de catarse?
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