Começámos a ver a série «The Family» porque, erradamente, vinha creditada como tendo em John Gray um dos autores (afinal só realizou dois dos doze episódios como tarimbeiro de serviço!) e Joan Allen uma das suas protagonistas.
Logo nos primeiros episódios as opiniões dividiram-se cá em casa, quase seguindo o comportamento dos colaboradores do site «Rotten Tomatoes», que davam 61% de opiniões positivas para 38% em sentido contrário. Aí pelo 4º episódio tivemos de decidir: vamos ou não levá-la atá ao fim? Armámo-nos de brios e assim o fizemos, mas sempre duvidando se não estávamos apenas a perder tempo. No balanço voltamos a pender para esse lado até pelo facto de o final em aberto para a continuação na segunda temporada não se ter justificado por ter sido uma delas a não ser contemplada com essa possibilidade.
Mas vamos à história: há dez anos uma candidata a presidente da Câmara numa pequena cidade do Maine, viu-se sem o filho mais novo, raptado num parque onde ela fazia campanha eleitoral.
Dado como morto, mesmo sem que o cadáver tivesse aparecido, a sanha de Claire Warren contra o vizinho da frente, que possuía comprometedor currículo como predados sexual por ter sido apanhado a masturbar-se num parque infantil, concluiu-se com a condenação deste a prisão perpétua.
Ora, dez anos depois, quando Claire prepara-se para concorrer ao cargo de governadora do Estado, sempre sob a agenda ultraconservadora de defesa dos valores familiares e da repressão sem concessões contra os predadores sexuais, vê o filho aparecer-lhe vindo de um abrigo subterrâneo existente nas redondezas e onde estivera todo esse tempo a ser vítima de abusos.
O que pareceria uma história fácil começa a complicar-se transformando as aparências em realidades escondidas e assaz perturbadoras.
Primeiro o jovem reaparecido não é o verdadeiro Adam, mas o seu companheiro de martírio, Ben, muito embora a “mãe” e a “irmã”, que depressa o ficam a saber, o continuem a apresentar como o verdadeiro benjamim da família por ser esse o seu interesse eleitoral.
Temos, assim que, se em «House of Cards» os democratas são apresentados como não cumprindo qualquer escrúpulo em proveito dos seus interesses pessoais e partidários, «The Family» tem como aspeto mais relevante a demonstração da hipocrisia moral dos conservadores norte-americanos, sempre muito apegados aos valores tradicionais, mas afinal convivendo bem com os que os contrariam.
Há também a polícia que, dez anos antes promovera - e por ela fora promovida! - a prisão de Hank em quem não lhe interessara a inocência, mas tão só os seus gostos sexuais recalcados, bem explícitos nas consultas da internet, e agora determinada aa corrigir o seu erro. Há ainda amores lésbicos e homossexuais para cumprir a agenda dos assuntos trendy e a manipulação inábil do espectador através de truques demasiado forçados para convencerem quanto à sua verosimilhança. E o último é o de fazer surgir o verdadeiro Adam na cena derradeira, destruindo de uma assentada todo o corpo narrativo entretanto concebido.
A ABC decidiu que não valia a pena continuar com a história, mas muito provavelmente se tivesse optado pelo contrário, já não nos contaria entre os seus expectadores.
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