Em jovem Alberto Manguel chegou a ser um dos contratados para ler para Jorge Luís Borges já então acometido de cegueira. Atualmente é diretor da Biblioteca Nacional da Argentina, depois de ter percorrido o mundo e escrito uma memorável ‘Historia da Leitura”, que fez dele o mais fiel discípulo do mentor pela cultura aí evidenciada.
Para o seu «Dicionário dos Lugares Imaginários», publicado há cerca de trinta anos, Manguel analisou milhares de textos venerados como «A Divina Comédia» de Dante ou “As viagens de Gulliver” de Daniel Defoe, ou até os mais esquecidos sobre aventuras anódinas. O projeto traduziu-se em imaginar um território e tentar acreditá-lo existente. Algo que satisfaz quem conserva algo de infantil, excitando-se com grutas desconhecidas, ilhas paradisíacas e sociedades apostas no amor em vez da guerra.
É que, desde as suas origens, os homens sentiram a pulsão de inventarem reinos e terras longínquas, que não tinham qualquer conotação com a realidade. Entre «Ilíada» ou a «Odisseia» e «As aventuras de Robinson Crusoe» os exemplos são múltiplos e, muitas vezes, maravilhosos.
Muitas das primeiras viagens foram buscas impossíveis, com todos esses périplos a terem fundamentos mágicos e espirituais. No prefácio do livro, Manguel restitui à viagem o seu sentido utópico evocando Thomas More e Stevenson, de quem respiga esta frase emblemática: “Mais vale viajar com esperança do que chegar ao seu destino!”.
São mundos imaginários legados por grandes sonhadores, mesmo que viajantes imóveis, os selecionados por Manguel para um novo volume da coleção «Bouquins» intitulado «Voyages Imaginaires». A sua escolha incidiu em seis autores, quase desconhecidos, que propõem outras tantas viagens surpreendentes como é o caso da «História dos Sévarambos» de Denis Vairasse, huguenote francês do século XVII amigo de John Locke e que imaginou uma sociedade desconhecida oriunda de um segundo casal do tipo Adão e Eva e cuja civilização desenvolvera-se nas costas australianas.
Há também a «Viagem a Icária» de Étienne Cabet,que tentou fundar uma colónia no Mississípi no século XIX, com a ajuda de quinhentas famílias europeias.
Charlotte Perkins Gilman assina uma utopia feminista intitulada «Herland», enquanto se deve a James DeMille «O Estranho Manuscrito encontrado num cilindro de cobre» sobre uma população imaginária, que preza a morte a e pobreza, vivenda na escuridão e fugindo da luz.
O fascínio do imaginário passa por estas mais de mil e trezentas páginas...
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