Gosto muito de filmes de terror, sobretudo se são bem feitos, muito embora as produções clássicas dos estúdios da Hammer continuem a agradar-me dentro da pobreza dos seus efeitos visuais.
A série «Penny Dreadful» de que comecei a ver a 3ª temporada tem justificado o meu interesse por nela encontrar referências explicitas aos romances de Mary Shelley, Oscar Wilde e outros autores britânicos do século XIX, que criaram ambientes soturnos e sobrenaturais tão de acordo com o gosto da época. Já o realismo se anunciava com a sua propensão para denunciar os horrores da exploração do trabalho de várias classes proletárias e agrárias e muitos dos apreciadores da literatura nos salões da burguesia ou da decadente aristocracia ainda se enlevavam com os laivos tardios de um romantismo entretanto dissociado dos estímulos revolucionários, que lhe tinham estado na origem.
Agora vieram somar-se-lhes Stevenson com o seu Mr. Jekill e Bram Stoker com Drácula e Renfield. Da mistura de todos esses personagens poderia temer-se a falta de consistência das intrigas onde todos tivessem de caber, mas a sapiência dos argumentistas tem criado sub-histórias coerentes, que se associam num final credível, que todos interliga.
Há quem questione como posso fascinar-me com um corpo narrativo, que contraria totalmente o meu ateísmo e racionalismo. Mas esse é um dos paradoxos da existência: às vezes os nossos gostos não coincidem facilmente com os modelos mentais com que os apreendemos...Até porque muitas vezes os juízos decorrem mais facilmente da contradição do que da confirmação do que já se conhece…
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