Se na conhecida fórmula académica de se escolherem três livros para uma ilha desértica, e um deles obrigatoriamente de banda desenhada, não tenho dúvidas em admitir que a escolha residiria num dos títulos de Edgar P. Jacobs com Blake e Mortimer como protagonistas.
A propósito do lançamento do mais recente título da série, o «Diário de Notícias» entrevistou o argumentista, Yves Sente, que explica as linhas orientadoras para prosseguir o trabalho do mestre. E acrescenta algo, que para mim significou uma novidade: o da razão legal, que vedara a Jacobs a possibilidade de inserir personagens femininos nas suas histórias. Explica Sente: “Jacobs teria desenhado personagens femininas se não fosse proibido. Fê-lo no Raio "U", mas na revista Tintim era impossível porque tinha um público muito grande nos colégios católicos e existia uma Lei de Proteção da Juventude, de 1956, com regulamentos muito complicados, que impediam a existência de personagens femininas na história.”
Reparo que essa lei data do ano em que nasci, o que dá bem conta do ambiente de preconceito em que cresci, com os meninos e as meninas a não se misturarem nas escolas. Porque o que era legislado para França não era decerto menos obscurantista na ditadura salazarista.
Quando, em 1971, integrei uma das primeiras turmas mistas do Liceu de Almada, a novidade quase soou a revolução. E, no entanto, o 25 de abril estaria logo ali, ao virar da História.
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