Se me dessem a escolher um tema para dirigir um filme, confesso que nunca me lembraria do crime ocorrido em Perugia em 2007, quando a estudante inglesa Meredith Kercher foi supostamente assassinada por uma colega norte-americana e respetivo namorado italiano. Mas vamos admitir que Thomas Lang, o protagonista deste filme de Michael Winterbottom é um duplo deste último e terá de dar artes à imaginação para tornar visível uma trama cheia de contradições, onde é difícil discernir quem fala verdade ou semeia cortinas de fumo para que ela nunca se venha a conhecer.
Partir desse pressuposto é dar a Winterbottom uma presunção de inocência, que a sua filmografia tende a desmentir, porque está recheada de títulos apostados em vampirizar os grandes temas da atualidade, ciente de assim atrair mais espectadores à bilheteira. Mas mantenhamo-nos nessa linha de interpretação do filme em que, às tantas, a história crapulosa fica a servir de cenário de fundo e o que mais passa a importar é a crise de criatividade de um realizador perturbado pelo divórcio e o afastamento da filha que adora. Por isso vai-se afundando em dependências alucinogénias, que transformam em monstros alguns dos que com ele vão convivendo.
O rosto da inocência tanto é o da filha, que vai contactando por skype, como o da vítima cuja morte nunca chega a ser verdadeiramente explicada.
A decisão da produtora em despedi-lo do projeto acaba por servir-lhe de bálsamo para a atormentada alma, sobretudo por, finalmente, dispor-se a seguir o conselho de Simone e procurar junto da ex-cônjuge a guarda partilhada da filha, que era afinal o seu grande problema desde o início.
Ao chegarmos ao genérico final podemos, sobretudo, lamentar que, Winterbottom nem sequer tenha aproveitado para nos mostrar uma das mais belas cidades italianas, Siena, de que só vislumbramos as estreitas ruas e a panorâmica a partir do terraço do hotel onde o protagonista se aloja.
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