A cerimónia dos Óscares deste ano foi apimentada pela grande contestação dos atores e técnicos negros pela exclusividade de nomeações apenas para o seus parceiros brancos. Não imaginávamos que, à luz do que ocorreria nas eleições do mês transato, já aí se traduzia uma visão racial dos méritos dos potenciais premiados. Mas a situação não era assim tão linear, porque um dos filmes citados como imerecidamente esquecidos estava este em que Will Smith tinha o principal papel.
Ao vê-lo é fácil concluir que esse desprezo fez sentido face ao seu efetivo valor, mas a leitura pode tornar-se bem mais fundamentada se reportada à pouca apetência dos grandes produtores de Hollywood para investirem em filmes realizados ou protagonizados por negros. Não se tratou, pois, da injustiça quanto a este filme em concreto, mas quanto à marginalização que, a exemplo de outros grupos igualmente visados - como o das atrizes a partir de uma maturidade já não condizente com o seu estatuto de objetos sexuais! -, os negros e outras minorias andam a ser vítimas.
Quanto a «Focus» em concreto, Will Smith interpreta o papel de um vigarista profissional, que decide ajudar uma candidata à mesma atividade a aprimorar as suas competências.
A relação profissional tende a ampliar-se para o campo sentimental e ele recua a tempo, mesmo que deixando-a possessa com tal rejeição. Três anos depois, em Buenos Aires, onde ambos casualmente se encontram, ela terá a possibilidade de se vingar da desfeita e quase o derrubar de vez.
Trata-se, pois, de uma história igualzinha a tantas outras já filmadas em várias épocas da História do Cinema e com bastante mais talento. Neste caso tudo é pobrezinho: o argumento, as interpretações (Smith a mostrar-se um canastrão) e a própria realização. Ou seja daqueles casos, que nos levam a concluir que andámos a perder ingloriamente mais de hora e meia de vida por algo que não suscitou qualquer empatia.
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