Nos anos 50 existiam dois tipos de reatores nucleares: o reprodutor, cujo protótipo era o EBR-1, e o de água leve. O primeiro reproduzia plutónio e podia recicla-lo repetidamente. O segundo era bem mais simples, mas produzia muitos mais resíduos, tendo sido escolhido pelo almirante Rickover para ser utilizado nos submarinos. Foi, igualmente, por sua influência, que se tornou no principal reator comercial em utilização.
Os primeiros técnicos envolvidos na indústria viram a utilização dos reatores de água leve como um trampolim de curto prazo para a verdadeira produção de energia nuclear, assegurada pelo reator reprodutor. A seu ver seria ele a garantir a quase exclusiva produção de energia elétrica a nível mundial.
A opção pelo reator mais barato e mais poluente foi uma opção comercial ditada pelo medo de que a União Soviética, também produtora da tecnologia, se antecipasse aos americanos na conquista dos mercados europeus. É para tornarem as suas instalações mais interessantes, os norte-americanos desenvolveram intensa campanha de marketing intitulada «Átomos para a Paz».
As centenas desse tipo de reatores espalhados por todo o mundo causaram resíduos numa escala inesperada e cujos danos ambientais perdurarão por milhares de anos. Razão para dar à energia nuclear uma má fama ainda mais justificada. Foi o custo pago pela mira do lucro, sem qualquer preocupação quanto às consequências futuras, e com as decisões exclusivamente ditadas por executivos sem qualquer formação técnica para compreenderem o que comercializavam.
A principal central nuclear comercial dos EUA foi construída em Shippingport, na Pensilvânia. Era uma versão modificada de um grande reator dos submarinos. Um dos grandes motivos para a companhia de energia a querer foi o facto de o carvão criar muita poluição em Pittsburgh. A energia nuclear dava a impressão de ser limpa tal qual é.
Os primeiros reatores eram pequenos, mas as empresas produtoras de eletricidade que os estavam a encomendar, intencionavam aumentar-lhes a dimensão e a potência o mais rapidamente possível. A segurança, em vez de vir embutida no próprio reator passava a ser-lhe construída à volta e exigiam-se sistemas de refrigeração do núcleo para evitar acidentes. Nessa fase a hipótese de eles virem a ocorrer ainda era diminuta, mas não impossível como se verificou em Three Mile Island onde a sucessão de uma pequena avaria e de más decisões dos operadores suscitaram a libertação de emissões radioativas para o exterior.
Duas semanas antes estreara-se nos cinemas o filme «Sindroma da China» com Jane Fonda, Jack Lemmon e Michael Douglas, que haviam preparado as multidões para a exequibilidade de verem os anunciados perigos converterem-se em realidade. O movimento «No Nukes», que rejeitava as armas e as centrais nucleares ganhou então uma dimensão coletiva, que parecia tornar irreversível a travagem dessa indústria.
A central de Shoreham, em Long Island, estava pronta para arrancar, quando o governador do Estado decidiu encerrá-la. Hoje ainda existe como um mausoléu de época distante...
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