Admirável o percurso biográfico de Pierre-Simon Laplace, sobre quem acabo de ler exaustivo ensaio. Como cientista devem-se-lhe inúmeros contributos desde a imposição do sistema decimal ao cálculo de probabilidades, passando pela explicação da mecânica celeste.
Os detratores, que foram muitos, acentuaram a volubilidade das suas convicções políticas ora sendo prestável súbdito do último dos Luíses do século XVIII, ora adotando intenso fervor revolucionário durante o período compreendido entre a tomada da Bastilha e a consagração de Napoleão como imperador, a quem logo prestou apoio.
O conúbio com o poder valera-lhe nomeações para cargos públicos com as inerentes regalias. Que não perdeu com a breve ressurreição monárquica depois do exílio do corso em Santa Helena, porque logo se declarou a favor do novo soberano.
Mas algo houve com que nunca transigiu: o ateísmo, que via como consequência incontornável da persistente busca de explicação científica para tudo quanto ignorava. Razão justificativa das suas derradeiras palavras: “O que conhecemos é muito pouco, o que ignoramos é imenso… O homem apenas persegue quimeras.”
Nesse sentido terá convergido com Newton, cujas descobertas científicas o haviam fascinado, mas em quem nunca entendera a insensata tentativa de as conciliar com a crença num ser divino. O que o antecessor inglês dissera - “fui como uma criança jogando à beira-mar (…) enquanto o grande oceano da verdade se estende inexplorado diante de mim” - era outra forma de estabelecer a comparação entre o que conseguimos compreender e o que nos falta saber para se alargar a dimensão desse conhecimento.
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