De entre os personagens de «A Tempestade» de Shakespeare, Ariel é o que tem mais encanto com as suas maliciosas canções. Ao contrário de Caliban não constituirá propriamente alguém de carne-e-osso, mas uma presença digna das forças indizíveis pelas quais se expressam a magia ou a imaginação. Por isso é uma espécie de espírito , que só ganha forma desde que convocado pelas palavras de alguém.
Ora é Próspero quem a ele recorre, não para o submeter, mas para que se sinta ajudado na prevenção dos desejos, como os adivinhasse por misteriosa intuição.
Acaba então por constituir a expressão dos poderes exercidos pela imaginação criativa sobre a realidade, embora haja estudiosos que o equiparem à capacidade manipuladora das classes dirigentes para liderarem os subordinados sem terem de recorrer a leis ou a ordens explicitas.
Essa é a versão escolhida por Renan na sua obra «Caliban» em que Ariel corresponde ao tal «ópio do povo» de que falava Lenine. Por isso, quando o escravo conduz a sua revolução, Ariel é neutralizado, por já não fazer parte das crenças populares. A revolução pugna pelo realismo, não abrindo espaço para o idealismo e as almas puras.
Mas, na obra seguinte, «L’Eau de Jouvence», ao sentir-se a morrer Prospero acaba por ceder o seu lugar a Ariel na forma humana, incumbindo-o de trabalhar em prol da vida e do amor….
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