Sempre gostei de romances situados em ambientes definidos como góticos. Por isso mesmo aprecio deveras os que Ana Teresa Pereira vem criando sucessivamente a partir do quase eremitério madeirense a que sempre se tem remetido. Ambientes de visibilidade reduzida pelo nevoeiro ou que têm invariavelmente o cinzento de chumbo a pairar por cima das cabeças das personagens, com o mar turbulento da Cornualha a fazer-se ouvir, dão sempre bons romances, quando escritos com talento.
«Santuário» de Andrew Michael Hurley, recentemente publicado pela Bertrand, vem aureolado de um dos mais importantes prémios literários britânicos e traz eloquente demonstração de como são bem mais perigosos os fanatismos suscitados pelo catolicismo do que os rituais pagãos datados de tempos imemoriais. Olhar para o que não se compreende e procurar respostas estratificadores sobre o que tem a ver com o Bem ou o Mal é meio caminho andado para se praticarem as piores malfeitorias.
Conclua-se, pois, que até pela relevância que o lado mais sombrio das religiões anda a pesar nos equilíbrios e desequilíbrios deste mundo, acaba por ser interessante vê-lo aqui abordado no potencial homicida, que comporta. E que nos incute a execrá-lo...
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