Se com Barack Obama as energias renováveis pareciam conhecer uma utilização crescentemente intensiva de forma a tornar obsoletas as centrais nucleares, de carvão ou queimando hidrocarbonetos, a futura administração Trump faz orelhas moucas aos alertas ambientalistas e prepara-se para devolver aos Estados Unidos a condição de primeiro poluidor a nível mundial.
Existe atualmente em curso uma campanha destinada a conferir ao nuclear um conjunto de virtudes, que subestimamos ao atendermos ao sucedido em Three Mile Island, em Tchernobyl ou em Fukushima. As imagens televisivas desta última a explodir ainda estão bem presentes na nossa memória para que escamoteemos os riscos inerentes a termos a Central de Almaraz tão perto de nós.
Primeiro foram as imagens terríveis da devastação causada pelo tsunami seguida da nuvem radioativa, que levou muitos norte-americanos da Costa Ocidental a inquietarem-se quanto à probabilidade de virem a sofrer as consequências da contaminação de materiais radioativos libertados a tantos milhares de quilómetros de distância.
Para dar início a uma reação em cadeia basta um neutrão tal qual se pode ver num velho filme didático da Disney em que se prometia o advento de uma revolução maravilhosa por conta do átomo, capaz de assegurar o essencial da produção de energia. Havia também o submarino «Nautilus», que chegaria ao Pólo Norte movido a energia nuclear e as crianças ficaram fascinadas.
A energia nuclear iluminaria cidades e não se limitaria a alimentar a propulsão de submarinos. Essa campanha, ocorrida nos anos 50 do século passado, dava uma visão muito positiva da nova forma de energia até por assegurar postos de trabalho bem remunerados. Afinal meio quilo de urânio bastariam para produzir energia até então assegurada por cinco mil barris de petróleo.
No Idaho, a criação do primeiro reator, o EBR-1, provara que o conceito fazia sentido cientificamente. Embora comportasse a má fama de já ter sido utilizado para fazer bombas, que não se limitavam a ser armas: eram a janela aberta para o Armagedão. As histórias vindas de Hiroshima e Nagasaqui tiveram um impacto profundo, demonstrando que, mais do que fonte de energia, o nuclear era essencialmente uma arma.
Depois, os testes continuaram indefinidamente com referências à radiação causada pelo estrôncio 90. Em poucos anos, norte-americanos, russos, chineses e franceses fizeram mais de dois mil testes com armas nucleares.
As crianças nascidas nessa altura tiveram pesadelos com ataques terríveis de que se tornavam raros sobreviventes e as próprias escolas contribuíam para esse temor constante com os frequentes simulacros. Os mais amedrontados andaram por essa época a construir abrigos nucleares no quintal.
Por muito que os defensores da utilização civil da energia porfiassem no oposto, o nuclear ganhou má fama e justificou mobilizações entusiásticas para ser travado.
No espaço mediático até uma série como os Simpsons contribuiu para essa cultura antinuclear com Homer a ser um descuidado funcionário da central de Springfield, cujo dono era um ganancioso milionário sem ponta de escrúpulos.
Há quem, porém, se questione contra os dogmas estabelecidos por essa altura...
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