Se há realizadores portugueses, cuja transição para as longas metragens me suscitam grande curiosidade, André Marques é o mais promissor depois de ter assistido a três curtas da sua autoria.
Datado de 2007, «João e o Cão» ainda é um filme de principiante, ou não tivesse custado apenas 2500 euros. Passado em Setúbal, tem como protagonista um adolescente, a viver sozinho com o pai, desde que a mãe optou por outro rumo. Ausente nas aulas (Maria Emília Correia tem um desempenho demasiado histriónico no papel da professora!) e agredido pelo progenitor, sobretudo, quando demasiado alcoolizado, o rapaz exerce a catarse no cão, que passeia de trela curta e é ameaçado na sua própria existência. Não admira que também ele escolha a fuga como solução.
O que mais me admira é o olhar profundamente magoado do bicho, que desconfio não se dever unicamente ao condicionamento do tratador.
«Luminita» data de 2013 e foi rodado na Roménia, onde André Marques viveu durante algum tempo. É a história de dois irmãos, que se reencontram no funeral da mãe, depois de muitos anos sem se verem. Rodado em seis dias é uma história, que já faz adivinhar a intenção de explorar narrativas mais longas, onde se equacionem muitas das questões aqui subjacentes: as relações familiares, a distância entre os que partiram e os que ficaram, a difícil adaptação a realidades económicas diferentes para as quais não se estava preparado, etc.
«Yulia» data de 2015 e tem Joana Verona no papel de uma rapariga em fuga depois de trazida de muito longe para servir de escrava sexual numa das redes de tráfico humano, que abundam por aí. Excelente o plano visto de cima da fugitiva pela planície onde busca encontrar quem a ajude a libertar-se das prometidas grilhetas.
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