Numa casa de férias à beira de um lago, Sandra diz à srª Snell o que pensa dos patrões, que a trazem para ali uma vez por ano. A interlocutora, que vinha engomar a roupa, parece mais interessada em beber o chá e sair para apanhar o autocarro, do que em escutar a maledicência da rapariga sobre as relações ambíguas entre marido e mulher, que servem de patrões ambas. Ou sobre o miúdo de quatro anos, Lionel, que se aproxima sorrateiramente para lhes ouvir as conversas indiscretas e anda sempre a fugir de casa.
É o que não tarda a suceder e a mãe, Boo Boo Tannenbaum, vai dar come ele à popa do veleiro semiabandonado da família. Só após um longo e paciente diálogo é que fica a saber a razão para ali se ter refugiado: ouvira Sandra acusar o patrão de ser judeu.
Minimizando o assunto Boo Boo instiga-o a acompanhá-la à estação do comboio para ir ao encontro do progenitor no que promete ser a demonstração de harmonia familiar, que a criada punha em causa.
Houve quem visse no conto a história de um miúdo num bote atracado ao cais, com a mãe a tentar convencê-lo a sair, mas é bem mais do que isso. Na austera escrita de Salinger está a conjugalidade e as diferenças raciais como tema subjacente a uma sociedade incomodada com os seus fantasmas. Nomeadamente nessas perspetivas tão opostas, decorrentes do estatuto social em que se se insere.
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