Vida em Família, de Ken Loach. Voando sobre um Ninho de Cucos, de Milos Forman. Dois filmes vistos na juventude deram-me desde muito cedo uma ideia bastante negativa da Psiquiatria. Na época ganhava forma uma nova escola destinada a erradicar de vez as terapias baseadas nos eletrochoques e em lobotomias, substituindo-as pelas terapias de grupo. Nesse sentido havia alguma concertação com a moda da Psicanálise, que tratando-se de abordagem individual, não deixava de assentar no poder da palavra confessada.
Ainda assim há uma desconfiança real dos Psiquiatras para com os psicanalistas com bastante razão: enquanto aqueles têm uma formação universitária efetiva com prática clínica associada, os pupilos de Freud e de Jung mais parecem uns aprendizes de feiticeiro, conhecedores das respetivas bíblias e delas retendo as soluções salvíficas.
Não foi preciso saber que um psicanalista de renome como Bruno Bettelheim se suicidou para encarar como natural a piada woodyalleniana em torno dessa tendência para os psicanalisados se sentirem algo desconfortados, quando os seus “terapeutas” se entregavam à morte voluntária como forma de libertação das respetivas angústias.
Por estes dias o representante do meu clube literário virá entregar-me à porta o ensaio que Jeffrey Lieberman escreveu sobre os erros passados da Psiquiatria e a forma como ela anda a encontrar soluções eficientes contra algumas das principais doenças do seu foro. E numa coisa parece ter razão: enquanto nos outros campos da Medicina se encaram as terapias absurdas do passado como etapas de passagem obrigatória até á descoberta da cura, a mesma complacência não se verifica na Psiquiatria, onde todos continuamos recordados do tipo de utilizações, que teve em regimes totalitários, ou dos tratamentos mais do que ineficazes do passado como os que valeram um injusto Nobel a Egas Moniz.
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