domingo, setembro 25, 2016

(V) Os homens querem-se bonitos e musculados?

«Curtes o meu corpo?»
Confesso a estupefação quando, no balneário do ginásio vi dois dos cultores mais entusiastas dos halteres a terem esse tipo de diálogo um com o outro.
Por natureza tento livrar-me o mais possível dos preconceitos homofóbicos alimentados por esta sociedade demasiado inquinada pelos valores do salazarismo-cerejeirismo, mas estranhei o tipo de conversa, que não fizera por alcovitar, antes acontecia com toda a naturalidade ali ao meu lado.
Recordei este episódio ao ver uma reportagem da BBC sobre a moda masculina de dar grande importância à aparência do corpo. Não sei se o conceito de metrossexualidade é uma moda ou veio para ficar, mas a dos que andam horas a levantar pesos para ganhar corpos musculados parece-me sustentável tanto mais que a peça jornalística interroga cada um dos jovens ali entrevistados e todos são unânimes em reconhecerem um passado como vítimas de bullying. Uns porque eram demasiado gordos, outros por serem trinca-espinhas, uns por serem tidos como muito feios, outros como excessivamente bonitos, todos contavam histórias pessoais agora justificativas do seu culto com o corpo.
Mas essa obsessão tem um lado negro, igualmente, inquietante: o do uso dos esteroides para acelerar a formação de ostensivos músculos. E isso constatei-o nesse mesmo ginásio onde um dos gerentes tinha conversas a meia-voz com alguns dos frequentadores daquele espaço sobre certos produtos especiais a que sugeria ter acesso.
O problema são as consequências colaterais da utilização dessas drogas, a maior parte delas comercializadas através da net, e causadoras de fulminantes AVC’s e outros problemas incapacitantes para quem delas abusa.
Há muitos anos um filósofo alemão procurava que se desse mais importância ao Ser do que ao Ter. Na época atual teria de ir mais longe, porque deveria enfatizar a supremacia do Ser em relação ao Aparentar. Porque essa é uma das mais absurdas vertentes dos nossos dias: aceitarmos viver numa sociedade pouco genuína, onde as máscaras escondem as verdadeiras personalidades de quem se socializa, criando problemas de identidade e desadaptação ao tortuoso mundo das aparências.


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