A entrevista com Arturo Pérez-Reverte, hoje inserida no «Público», e tendo Paulo Moura como interlocutor, causa-me reações contraditórias, apesar de se tratar de autor, que costumo ler com agrado.
O que nele mais rejeito é a visão catastrofista e islamofóbica do futuro, considerando inevitável a existência de governos neonazis por toda a Europa daqui a vinte anos como resultado implícito da reação ao dinamismo vitorioso das forças jiadistas.
É-me por isso antipática a posição de arrogante indiferença perante tal cenário, porque alivia-o a ideia de, nessa altura, já não estar vivo para o ver.
Desagrada-me, igualmente, a misoginia de quem se gaba de ter um passado vibrante onde terá tido muitas mulheres a passar-lhe pela cama. E não é propriamente assim que o diz, já que a expressão utilizada é simplesmente boçal.
Mas se esses argumentos me levam a desqualificá-lo face à consideração que, como escritor me merecia! - e é bem conhecida a minha posição de nunca separar a obra do criador, rejeitando aquela se assinada por reconhecido crápula! - há algo que ele defende com que concordo em absoluto: o atraso económico de países como Portugal, a Espanha e a Itália, só se explica pelo papel nocivo da Igreja Católica. Embora hoje ela esteja relativamente neutralizada no seu potencial danoso, é fácil detetar-lhe o perigo latente, sempre que tem a oportunidade de revelar a verdadeira face nas questões fraturantes ou na defesa dos colégios privados.
Um outro argumento em que lhe devo dar razão é o quanto os governos têm feito tão pouco pela Cultura dos jovens, que não ganham armas intelectuais defensivas contra as manipulações demagógicas, que os tomam como alvo. Nesse sentido Reverte tem razão, quando alerta para os perigos das redes sociais e da net no seu todo, quando as palavras sábias de uns são marginalizadas em favor das insinuantemente idiotas, quantas vezes amplificadas em nome de sinistras agendas ideológicas.
Para já fiquemo-nos com o interesse, que nos deve suscitar «Homens Bons», o livro acabado de lançar do autor, e que é a história de alguns eruditos espanhóis do século XVIII, que vão a França para adquirir um exemplar da Enciclopédia, em manifesta rutura com o clima obscurantista da Inquisição.
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