Para David Thomson quem vê um filme torna-se de alguma forma seu autor. E este é um conceito com que me identifico cada vez mais. Se houve um tempo em que me preocupavam os filmes como obras de arte, e como tal consideradas, essa conceção do cinema, ainda que não totalmente abandonada, vai dando lugar à de responder a esta questão: o que me dizem essas imagens? Que efeito têm em mim? Mudam algo no que sei ou no que penso ou são tipo chiclete que tão só mastigada é atirada para o caixote do lixo?
Interessam-me os filmes de que me aproprio, que me levam a pensar no que seriam se a narrativa fosse a de um dos seus personagens secundários, ou como eles evoluiriam depois de concluída a passagem do genérico final.
É por isso que, muitas vezes, quem escreve sobre filmes está de algum modo a descrever-se, a revelar-se.
Estamos, porém, a constatar um declínio do cinema, que deixou há muito de ser o grande momento da semana vivido por famílias inteiras nos tempos das salas com oitocentos ou mil espectadores. Era uma época em que se produziam menos filmes e eles conseguiam cativar um público mais alargado. Daí que nenhum dos muitos filmes hoje rodados sobre a crise financeira de 2008 consiga ter o impacto e a relevância de «As Vinhas da Ira» cujo tema tinha a ver com os efeitos da Grande Depressão de 1929.
Ademais, se o acesso aos filmes estava cingido à programação das salas de cinema, com a chegada da televisão, dos clubes de vídeo, da internet e das power boxes ficou facilitado o acesso à descoberta de qualquer título objeto do nosso interesse, encontrando-o rapidamente disponível numa das múltiplas plataformas disponíveis. O problema é que as condições para os ver são quase sempre deficientes em relação ao que significavam numa sala de cinema, quanto mais não seja por serem irreproduzíveis o impacto do ecrã de 70 mm ou o deslumbramento do technicolor.
Não se pode, igualmente, considerar que se vê cinema como era visto no passado, porque a atenção concentrada de então passou a ser desviada pelos sons das pipocas nas salas multiplex ou pela atividade circundante no ambiente caseiro.
Conclua-se com o efeito perverso do ainda remanescente star system em que tantos filmes são ou não viabilizados pela industria em função de com quem se conta em cartaz, continuando-se a dar atenção prioritária a quem interpreta o filme em vez de se cuidar sobre o que ele trata.
Para quem vive a cinefilia há já umas quantas décadas não é fácil continuar a ter o prazer encontrado em tempos idos. Restam-nos poucas salas comerciais, a Cinemateca e os Festivais (Indie, DocLisboa, etc) para viver a Sétima Arte como algo mais do que um entretenimento passageiro. Continuando em busca de experiências exaltantes...
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