Prosseguindo com a abordagem do filme argentino, que os Almodovares produziram e foi sério candidato ao Óscar para a melhor proposta estrangeira, olhemos para o episódio, que dos seis menos me agradou.
Numa noite de chuva um cliente entra num daqueles restaurantes, que lembram os situados nas paragens dos autocarros Greyhound no lado norte do continente. Único cliente, logo a empregada o reconhece como um escroque que, na sua terra natal, era um agiota mafioso, que levara a família à miséria, o pai ao suicídio e a mãe a ter de se precaver do seu assédio sexual.
Transtornada, conta à cozinheira a razão dessa perturbação, e logo ela lhe propõe vingança, dando-lhe remédio dos ratos na comida.
Temerosa das consequências a rapariga nega-lhe tal sugestão e vai continuando a atender o biltre, que a não reconhece, apenas lhe estranhando o nervosismo.
Quando lhe serve a refeição pretendida, só ao chegar à cozinha é que a rapariga percebe como, contrariando-a, a outra levou por diante a sua proposta, alegando-lhe não ser tão má como dizem a vida na prisão, antes constituindo ambiente bem mais descansado do que aquele em que trabalham.
A necessidade de inverter a situação ainda se torna mais premente para a jovem, quando vê o filho do cliente chegar numa breve paragem do autocarro e servir-se das batatas fritas do progenitor.
Ao vê-lo a espumar pela boca, tira-lhe a travessa da frente, mas o pai, furibundo, interpõe-se por impedir o filho de se alimentar. E é nessa altura que a cozinheira surge por trás a esfaqueá-lo mortalmente.
Num conjunto de histórias, que encerram sempre um dilema moral, está em causa a legitimidade ou não de fazer justiça pelas próprias mãos. Um tema, que volta a ser abordado no quarto sketch, em que o protagonista é um engenheiro especializado em implosões em edifícios, que vê o carro rebocado por quatro vezes de locais de estacionamento não indicados como tal na cidade, no que parece ser um negócio mafioso de conluio entre o município e a empresa incumbida de retirar os veículos dos locais «proibidos».
Cioso de ser respeitado, Simon age em defesa desse imperativo e perde emprego e família, quando os jornais o dão como um delinquente, que põe em causa a ordem pública.
A explosão do próprio carro no local de parqueamento das viaturas apreendidas constitui a única reação que lhe resta contra a vigarice instituída e apoiada pelo poder. Acusado de terrorista vai preso, mas começa a ter a apoiá-lo um vigoroso movimento nas redes sociais, que o transformam num herói em quem se reconhecem tantos milhares de outros cidadãos indignados, suficientes para pôrem em causa a negociata em causa.
Só o final é demasiado exagerado, porque Simon recebe a mulher e a filha na prisão, vindas com um bolo a festejarem-lhe o aniversário, na companhia dos demais prisioneiros, que o adotaram como líder. Mas fica assim demonstrada a complacência com os atos terroristas como última alternativa contra o arbítrio.
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