Produzido pelos irmãos Almodovar, e assumidamente influenciado pela série «Twilight Zone», este filme em seis episódios do argentino Damian Szifron foi incensado pela crítica internacional, premiado em diversos festivais (embora falhando o Óscar para Melhor Filme Estrangeiro) e fulminado pelos exigentes cinéfilos nacionais.
Visto o filme, nem é caso para oito, nem para oitenta: não é nenhuma obra prima, mas cumpre agradavelmente a função de entretenimento inteligente, mesmo tornando-se frequentemente previsível na sua pretendida imprevisibilidade.
O primeiro sketch surge antes do genérico: estamos num avião (porventura o mesmo cenário de um dos mais recentes filmes de Pedro Almodovar) e com todos os passageiros a instalarem-se nos seus lugares.
De repente um cinquentão careca armado em galã mete conversa com a concupiscente vizinha do lado, que se confessa modelo de passerelle. A meio da conversa de engate, ela lembra depreciativamente um ex-namorado de nome Gabriel Pasternak.
O interlocutor não se contém no espanto: também ele conhecera esse jovem, que se submetera a exame no Conservatório onde era professor de música, e recebera rotundo chumbo devido à manifesta falta de talento.
A rapariga recorda ter-se tratado de um trauma, que muito o havia penalizado. Mas já outros passageiros se juntam à conversa, todos eles conhecedores desse Gabriel Pasternak e envolvidos em algo que o terá em tempos prejudicado: a professora de liceu que o reprovou, o amigo que lhe roubara a namorada, etc.
Depressa concluem que todos conheceram esse jovem que a assustada hospedeira informa ser o chefe de cabina, entretanto trancado no cockpit com os pilotos.
Um psicólogo, que lhe aumentara indevidamente os preços das consultas, tenta demovê-lo de qualquer propósito vingativo, porque a culpa estaria na forma como os progenitores o terão humilhado durante o processo educativo.
A última cena desta história mostra-nos um casal de idosos sentados em cadeiras no jardim, a lerem jornais e um avião a aproximar-se progressivamente até vir a com eles embater.
Trata-se, assim, de um tipo de intriga, que nos remete para os atentados do 11 de setembro ou para o caso do piloto alemão, que se suicidou de encontro a uma montanha alpina, levando consigo todos os passageiros do voo onde era copiloto .
O episódio serve ainda de pré-aviso para o que se seguirá: através de sucessivos personagens seremos confrontados com alguns dos nossos receios mais inconfessáveis, neste caso traduzido na aleatoriedade de sermos transformados em vítimas dos estados psicóticos alheios...
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