Uma das principais razões para ter demorado mais de trinta anos até ver o filme que Peter Hyams rodou a partir da sequela de Arthur C. Clarke sobre «2001 Odisseia no Espaço», foi pela sensatez do célebre conselho de nunca devermos regressar a um sítio onde fomos felizes. Ora já foram umas quantas as vezes em que me deleitei com o filme de Kubrick - a última das quais há menos de uma semana! - e sempre delas recolhi satisfação apesar de continuar sem dar um significado preciso ao célebre megálito, que tanto aparecia nos alvores da Humanidade, como depois na Lua ou em Júpiter.
Cedi finalmente às reticências e senti-me na lógica daquele célebre anúncio ao melhoral: nem me fez bem, nem mal. Deu, sobretudo, para recordar a época em que a corrida aos armamentos entre os dois blocos militares parecia tender para um conflito nuclear, levando milhões de pessoas a engrossar contestações pacifistas. Entre elas estava Clarke que, do Sri Lanka onde se decidira radicar, tudo fazia para expor a necessidade de uma profunda alteração ao ânimo belicista dos senhores do Pentágono.
O livro e o filme serviam para engrossar essa mensagem, porque a história em si é do que de mais banal se espera no género da ficção científica. O interesse do autor estava na mensagem final em que uma entidade superior (alienígena? Deus?) alertava os terráqueos para as tentações destrutivas. E, por isso, se os astronautas americanos e soviéticos, que partilhavam a nave Leonov, tinham de conjugar esforços para regressarem à Terra, a ideia era fazermos o mesmo num planeta recheado de problemas.
A mensagem poderia considerar-se datada tendo em conta a vitória americana com a implosão do inimigo em 1989, mas continua a fazer sentido dada a indigna intenção de, mantendo esses mesmos tiques da Guerra Fria, não parecerem contentar-se com a situação atual, insistindo em achincalhar a grande Nação russa, estendendo a Nato até ao outro lado das suas fronteiras.
Ademais, se nos anos 70 e 80 vivíamos sob a ameaça de um inverno nuclear, o aquecimento global empurra-nos para cenários não menos distópicos onde a cooperação entre todas as nações, sobretudo das mais poluentes, é imprescindível.
È por tudo isso que o filme de Hyams - um realizador que nunca conseguiu ser mais do que um competente tarefeiro! - merece ser visto. Quanto mais não seja por Helen Mirren no papel da comandante soviética, ainda muito distante da exibição do talento, que revelaria noutros títulos posteriores.
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