Devon, Inglaterra, em 1944. O sargento X está aí a preparar-se para o Dia D, quando entra numa igreja e entrega-se à beleza de um coro infantil, onde sobressai uma rapariga particularmente talentosa. Trata-se de Esmé, que ele encontra pouco depois num café e com quem entabula uma conversa durante quase uma hora. Fica assim a conhecer o seu drama: ela e o irmão, Charles, ficaram órfãos como consequência da guerra e vivem sob os cuidados de uma governanta, também ali presente.
Charles, que é um miúdo espertalhão, desafia-o para uma adivinha sobre o que diriam duas paredes uma à outra:
- Encontramo-nos à esquina! - era a resposta certa.
Fora, pois, numa esquina da vida, que Esmé firmara-se como referência do seu passado, tanto mais que aproveitara a ocasião para o desafiar a escrever, em sua intenção, uma história com algo de sórdido.
Meses depois, quando recuperava dos ferimentos de guerra numa casa da Baviera, recebera uma carta da rapariga, acompanhada do volumoso relógio, que tanto o impressionara no breve encontro por ela o ter herdado do pai, quando morrera logo no início do conflito.
Só seis anos depois, quando acaba de receber um convite para o casamento dela, e perante a impossibilidade - até económica! - de voltar a atravessar o oceano, que lhe escreve a história encomendada com as duas vertentes: a do amor inocente, que lhe dedicara, e a da sordidez das recordações da guerra, que o continuavam a assombrar.
Publicado em 1950 na revista «New Yorker» este conto surgia a contracorrente da tentação do regime norte-americano em privilegiar a versão heroica dos acontecimentos ocorridos durante a Guerra, quando tantos veteranos continuavam (e continuariam!) a sofrer-lhe as sequelas, nomeadamente as do foro mental, das quais o próprio Salinger nunca se terá completamente libertado.
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