Neste final da semana foi possível ouvir a suite «Scheherazade», op. 35, na Gulbenkian, com a orquestra da Fundação a ser dirigida pelo maestro Pedro Neves.
Na gravação aqui linkada temos uma interpretação de referência da mesma peça orquestral, com Valery Gergiev a dirigir a Orquestra Filarmónica de Viena no Festival de Salzburgo de 2005.
Quando a estreou em outubro de 1888 em São Petersburgo, Rimsky-Korsakov já era considerado um dos mais brilhantes compositores do Império dos czares.
Procurando o agrado do público, ele apostou no fascínio, então muito na moda, por tudo quanto dissesse respeito ao Oriente. E nada melhor do que recorrer à personagem de Scheherazade, exímia contadora de histórias, que consegue o artifício de pôr fim à prática do sultão em casar todos os dias com uma nova sultana e matá-la na manhã seguinte para que ela não o traísse, como julgava ser inevitável com todas as mulheres.
Muito embora outras histórias tenham vindo secundarizar estas no imaginário das crianças de hoje, eu reconheço-me numa geração, que também partilhou esse deslumbramento pelas histórias contadas pela sultana de Bagdad.
Há, pois, uma ambiência exótica nos vários temas, que irão versar algumas das histórias mais conhecidas da célebre antologia, como a do Sinbad, o Marinheiro, ou a do príncipe, que se decidiu disfarçar de vagabundo e assim conhecer melhor os seus súbditos.
Rimsky-Korsakov procurava prolongar um pouco mais os códigos românticos, muito embora os tempos já se começassem a preparar para o modernismo. O que não obsta a que esta seja, dentro da vasta obra do compositor, uma das mais reconhecidas pelos melómanos.
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