Ian Buruma é um escritor holandês, que está radicado nos Estados Unidos onde dá aulas no Bard College de Nova Iorque.
Enquanto especialista nas relações entre o islão e as sociedades ocidentais, o «L’Obs» foi ouvi-lo ainda na ressaca dos atentados de janeiro. O que ele formulou tem suficiente interesse para quem quer perceber um pouco melhor o fenómeno do daechismo (termo a que alguns preferem recorrer em vez da banalização do “fascismo”, com que tem semelhanças, mas também bastantes diferenças!).
Para Buruma o objetivo das ações violentas praticadas pelos grupos islamitas é alcançar o máximo de publicidade e causar clivagens sociais.
Como a maioria dos muçulmanos radicados na Europa não estão interessados em alinharem no seu projeto procuram forma de os atrair sob o argumento de se estar a viver uma guerra de civilizações do Ocidente contra os seguidores do Corão. Por isso é importante para eles, que esses muçulmanos não alinhados se sintam segregados e objeto de manifestações de ódio. Porque acreditam que, quanto mais ameaçados se sintam, mais facilmente os poderão vir a apoiar.
Ao contrário dos que andam nas redes sociais e nos correios eletrónicos a disseminar mensagens de ódio ou de medo para com os muçulmanos, os europeus têm de compreender a diversidade de interpretações do islão, que subsistem. Nem a Al Qaeda representa mais do que um grupúsculo no seio da comunidade muçulmana, nem o próprio wahhabismo da Arábia Saudita constitui mais do que uma manifestação relativamente recente de uma cultura bem mais rica e tolerante. Um e outro fenómeno apenas correspondem a uma reação às ditaduras laicas, que dominaram durante muitos anos o Próximo Oriente. Eles exprimem sentimentos de impotência e de humilhação, que encontraram eco nos filhos dos emigrantes para os quais as sociedades europeias só oferecem como alternativa ao desemprego, a realização através da filiação numa missão tida como grandiosa, mesmo passível de os conduzir à morte violenta.
E há também a inveja relativamente aos judeus, que constatam ser uma comunidade integrada e próspera nessas mesmas sociedades, que os marginalizam.
Os jovens que se radicalizam e vão militar no Daesh iludem as angústias pela falta de perspetivas de futuro na revolta contra as elites - os partidos políticos tradicionais, os intelectuais urbanos, os media de esquerda, etc. - a quem atribuem a culpa por todos os seus males. Habitam um mundo em permanente mudança a que não se conseguem, de modo algum, adaptar.
Buruma é otimista quanto à integração gradual dessas comunidades diferentes se os próprios medos dos europeus os não levar à tentação de imporem uma securização excessiva nas sociedades em que vivem.
A solução passará sempre pela criação de empregos estáveis e dignamente remunerados e pela complacência por quem traz de origem valores civilizacionais diferentes, que devem ser desafiados a complementarem-se em vez de se incompatibilizarem com os dominantes.
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